Alto calibre

O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James for the Coward Robert Ford)
5/5

Direção: Andrew Dominik
Roteiro: Andrew Dominik, baseado em livro de Ron Hansen

Elenco
Brad Pitt (Jesse James)
Casey Affleck (Robert Ford)
Sam Rockwell (Charlie Ford)
Sam Sheppard (Frank James)

O filme conta a história a partir do momento em que Robert Ford entra na gangue do famoso fora-da-lei. Ansioso por fama e pelo dinheiro da recompensa, Ford acaba se tornando o algoz de seu líder.

Há algo de inevitável nas quase três horas de duração do filme. Um tom melancólico permeia a narrativa, sabendo que no final seu protagonista não sairá vivo. No entanto, longe de algo monótono, o clima proposto pelo diretor é contemplativo: aos 34 anos, James está cansado de liderar bandos, de se mudar constantemente, cansado de desconfiar de todos. Do outro lado, Robert Ford possui o vigor da juventude, além de sonhar com grandes façanhas. A obsessão que possui pela figura de Jesse James não apenas alimenta sua ambição como o seduz ao cargo de líder. Como diz o fora-da-lei em certo momento, “você quer ser como eu ou quer ser eu?”.

E é em locais afastados, cuja paisagem é quase opressiva, que a trama se desenvolve. As regiões são fotografadas de forma seca, em uma tristeza que traduz o isolamento – necessário, mas nem por isso desejado – daquelas personagens. A própria questão de serem marginais os levou a isso, e se há uma certa beleza nesse nomadismo fora-da-lei (que atraiu Robert Ford), o entusiasmo com que James cumprimenta seus filhos ao voltar pra casa mostra o quanto é pesado esse fardo.

Contando com um roteiro econômico, que se utiliza de uma narraçao em off apenas quando necessário (além de construir belos diálogos), o diretor mostra que sabe o poder das imagens, confiando nos seus enquadramentos para contar a história sem abusar de explicações através de conversas e/ou monólogos (e alguns planos são simbólicos, como fotografar o rosto de James através de um vidro enquanto ele questiona as escolhas que fez pelo caminho, tornando seu rosto levemente distorcido). Há na produção uma coesão admirável entre texto e imagem.

Mas nada disso funcionaria sem os elementos certos nos papéis principais. Como Jesse James, Brad Pitt encarna o magnetismo e a imprevisibilidade do sujeito. Sempre que está em cena, o ator permanece com o rosto sereno, atento a tudo (mesmo quando está rindo) – e apenas em certos momentos seu olhar desvia para o vazio, denotando o esgotamento do fora-da-lei. Até quando parece displicente e descontraído o pistoleiro se mostra desconfiado. Do outro lado, Casey Affleck demonstra toda a energia e insegurança de Robert Ford, que busca alcançar a fama mas é sempre caçoado por seus companheiros. Sua aparente calma contrasta com alguns trejeitos inquietos, e nunca se tem a impressão de que ele realmente está certo de seus atos.

Todos esses elementos são colocados na tela com uma harmonia invejável. É uma pena, portanto, que O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford tenha sido preterido no Oscar pelos (excelente) Juno e (mediano) Desejo e Reparação, pois a saga do fora-da-lei merecia ser lembrada pelos profissionais de cinema: não é sempre que um diretor acerta o alvo assim.

Papo kbça

Estava eu ontem voltando de mais um dia de trabalho digno, dentro de um ônibus que passa em frente ao Monumental. Ontem teve show e o coletivo estava tomado de torcedores vestidos de azul. Havia realmente bastante gente naquele ônibus. Alias é impressionante! Motorista de ônibus parece uma boa mãe, não rejeita sequer um rebento que lhe estende a mão.

Depois de muito me esquivar com a minha singela mochila incompatível para o lugar onde eu me encontrava, acabei achando um cantinho para viajar – não precisaria mencionar aqui que era viajar de pé – bem próximo a dois sk8tas que trocavam consistentes ideias antropológicas a respeito da situação.

Como eu não tinha absolutamente mais nada pra fazer, e realmente não há o que fazer quando se está viajando em um circular metropolitano sem a companhia de algum conhecido, eu inevitavelmente acabei prestando a atenção em algumas das frases colocadas pelos dois sociólogos.

Antes é preciso identificar que havia um sk8sta radical e um sk8sta moderado, ambos rondando seus tenros 16 anos de idade. Eis o trecho mais interessante:

Sk8sta radical: Não me entra na cabeça como tanta gente assim se mobiliza para assistir a uma partida de futebol!
Sk8sta moderado: Ah, é como a gente: nós vamos até a rampa para ver os profissionais fazendo manobra, eles vão ao estádio para torcer pelo time profissional deles.
Sk8sta radical: Pode ser, mas aposto que a grande maioria dessas pessoas estão indo ao jogo por puro modismo.
Sk8sta moderado: Não é moda, o sujeito nasce com isso. É desde pequeno que houve o pai, os tios, todo mundo falando só em futebol, futebol, futebol… É uma lavagem cerebral! (e agora o argumento cabal) Nós mesmos, quando pequenos, também acompanhávamos os jogos.

*foi utilizada neste post uma adaptaçao da linguagem para que o diálogo se tornasse compreensível. Porém vale salientar que o termo ”modismo” foi realmente mencionado na conversa.

Imaginação

Circulando pela cidade, em uma agradável tarde com aproximadamente novecentos graus de calor na rua, presenciei a seguinte cena: um mendigo, no seu lugar à sombra, pegava uma vassoura e, fingindo que era um rifle, apontava para transeuntes que por ali passavam. Um movimento com a boca acompanhado de um falso tranco da arma indicavam que o disparo havia sido feito. Para finalizar, a tradicional soprada no cano do “rifle”.

Pensei em pegar uma bandeira branca e me aproximar, no intuito de descobrir quais motivos levam o sujeito a praticar tiro ao alvo com uma vassoura. Mas parei no meio do caminho: prefiro acreditar na versão que bolei, onde chego para ele perguntando “Afinal, por que o senhor faz isso?” e recebo a excelente resposta “Para limpar a cidade, ora”.

Oscar 2008

Breves comentários sobre os vencedores da 80a Cerimônia de Entrega dos Homenzinhos Pelados e Dourados.

Melhor Figurino – Elizabeth

Filmes de época sempre ganham figurino. É batata. Nada como confortáveis armaduras e vestidos com mais tecido do que bandeiras de torcidas para garantir um Oscar.

Melhor Animação – Ratatouille

Digamos que a Pixar deixou esse filme cozinhando até atingir o ponto ideal. Merecido.

Melhor Maquiagem – Piaf: Um Hino Ao Amor

Não vi, mas bem que a maquiagem poderia ter escondido esse dispensável subtítulo que o filme recebeu aqui no Brasil.

Melhores Efeitos Visuais – A Bússola de Ouro

Eu votaria em Transformers – afinal, com toda a produção, com todo os equipamentos e dinheiro investidos nos efeitos especiais, a coisa mais bela e impressionante de A Bússola De ouro ainda é a Nicole Kidman.

Melhor Direção de Arte – Sweeney Todd

Aqui a recriação de época em Sangue Negro merecia levar. Sweeney Todd não me impressionou muito, e em termos de direção de arte não foge ao ‘estilo Tim Burton’. Sei lá, pra mim soa ‘mais do mesmo’, exatamente como a Luma de Oliveira na Playboy.

Melhor Ator Coadjuvante – Javier Bardem

O psicopata que ele fez em Onde Os Fracos Não Têm Vez foi tão impressionante, mas tão impressionante, que os membros da Academia ficaram com medo de não dar o prêmio pro cara.

Melhor Curta Documentário – Le Mozart des Pickpockets

Tentem pronunciar o título do curta três vezes e bem rápido.

Melhor Curta de Animação – Peter and the Wolf

Injustiça! Cavaleiros do Zodíaco devia receber todos os prêmios da categoria.

Melhor Atriz Coadjuvante – Tilda Swinton

Só pra Conduta de Risco não sair de mãos abanando, embora a atuação da moça, dizem, seja excelente (sim, eu comento sobre coisas que não assisti ainda).

Melhor Roteiro Adaptado – Onde Os Fracos Não Tem Vêz

Se você for comprar o livro agora, provavelmente haverá uma fita em volta do volume dizendo “O livro que deu origem ao oscarizado filme dos Irmãos Coen”. Essa fita, aliás, ocupará um espaço equivalente a 80 ou 90% da capa.

Melhor Efeitos Sonoros – O Ultimato Bourne

Nada como uma agradável sessão com vidros quebrando, carros se chocando, tiros, explosões e outras agressões ao tímpano para ganhar o prêmio.

Melhor Mixagem de Som – O Ultimato Bourne

Nada como uma agradável sessão com vidros quebrando, carros se chocando, tiros, explosões e outras agressões ao tímpano para ganhar o prêmio.²

Melhor Atriz – Marion Cotillard (Piaf: Um Hino Ao Amor)

Venceu a única que ficou feia para o papel.

Melhor Montagem – O Ultimato Bourne

Depois que Jason Bourne lutou contra um cara usando apenas uma caneta, em A Identidade Bourne, ele merece qualquer coisa relacionada à palavra “corte”.

Melhor Filme Estrangeiro – Os Falsários (Die Fälscher – Áustria)

A Academia premiou um filme sobre judeus na Segunda Guerra? Só não é a surpresa do dia porque o Botafogo amarelou em um jogo decisivo.

Melhor Fotografia – Sangue Negro

Esse prêmio devia ir para Onde Os Fracos Não Têm Vez, pelos belos enquadramentos e utilização de sombras. Ou então para Mergulho Radical, que fotografa a Jessica Alba em poses generosas. Ah, a Jessica Alba…

Melhor Trilha Original – Desejo e Reparação

A trilha de Os Imperdoáveis faz o cara ter vontade de ir pro Velho Oeste disputar duelos, conhecer donzelas e ver aquelas bolas de feno atravessando o campo de visão. Merecia ter levado.

Melhor Documentário de Curta Metragem – Freeheld

Não vi, não passou no circuito interno da UFRGS…

Melhor Documentário – Taxi to the Dark Side

Foi algo tipo “Não vamos deixar o Michael Moore subir no palco de novo”.

Melhor Roteiro Original – Juno

Pequena Miss Sunshine 2

Melhor Ator – Daniel Day-Lewis

A competência do cara ao criar a personagem foi tamanha que eu não me surpreenderia se, ao subir no palco, ele começasse a cavar um buraco em busca de petróleo.

Melhor Diretor – Ethan e Joel Coen

Segue a sequência de premiar diretores que já deviam ter sido premiados (iniciada ano passado com Scorcese). Mas o trabalho deles foi realmente sensacional. Justo.

Melhor Filme – Onde Os Fracos Não Têm Vez

Mais do que merecido: é realmente o melhor filme, um pouco acima de Sangue Negro. Aliás, analisando os últimos vencedores, parece que a Academia tomou vergonha na cara e não pretende mais shakespeareapaixonadizar o prêmio mais importante da indústria cinematográfica.

Série Formandos

Um zagueiro descendente de italianos, que gostaria de se chamar “Corleone” se não me engano. Admirador dos lances mais plásticos do futebol – carrinho, voadora e marcação -, é um dos poucos gremistas que se orgulham de torcer também pela Inter… de Milão.

Um redator descendente do Veríssimo, hábil com as palavras e, eventualmente, com um copo de cerveja cheíssimo. “Dono de opiniões pertinentes” é como o conheço, mas é por estar presente quando a gente precisa de ajuda que eu mais agradeço. E também por contribuir com este blog a fundo, alimentando a nossa idéia de um dia dominar o mundo.

Um conhecedor descendente das novas tecnologias, que carrega na sua mochila a Internet como filosofia. Embora trucador, sobre estes assuntos ele não blefa, posso afirmar, pois mesmo no complicado mar das novidades tecnológicas o cara consegue com facilidade nadar. Portanto, se em uma conversa ele utilizar um termo muito complicado ou desconhecido, não leve a mal: é apenas uma Expressão Digital.

Coisas caem do céu

Todo mundo sabe que pássaros cagam enquanto voam, e que esse material pode, eventualmente, acertar transeuntes desavisados no solo. É um tipo de ocorrência muito utilizado em humor de baixo nível no cinema – o André, que é o entendido na 7a arte, pode falar mais a respeito.

Agora, imaginem um pássaro grande. Imenso. Gigante. E imaginem-no feito de metal, e impulsionado por turbinas. Sim, eu estou falando de aviões. Se vocês achavam que um avião só conseguia imitar os pássaros na arte de voar, estavam enganados.

Ice from airplane potty crashes through Calgary roof (CBC News)

Para usar as palavaras do Scott Adams (encontrei isso no Dibert Blog):

That’s the sort of thing that could erase a lifetime of accomplishment. I would instantly stop being the guy who created Dilbert and forever be known as the cartoonist whose head was crushed by a turd. (Dilbert Blog)

Bizarríssimo.

Série Formandos

É uma longa distância de Sorocaba até Porto Alegre, do Pearl Jam até o U2, de trocar o “você” pelo “tu”. Que se dêem os devidos créditos, então, a quem possui esses méritos, além de se responsabilizar pelo visual que este blog tem – mas não paguem em tequila, senão ele dorme e não pode ser acordado por ninguém.

É uma longa distância para percorrer com um Celtinha, mas tinha que ser, pois não é sempre que paulistas e portoalegrenses têm tudo a ver. Radicado aqui pelo futebol e cerveja, veio esse turista que, com certeza, nesta cidade descobriu que o gol é apenas do bolo a cereja. Aliás, como todo bom torcedor do São Paulo, conhece seu lugar: sendo eliminado nas oitavas, inventando desculpas e choramingando sem parar.

É uma longa distância entre o primeiro semestre e uma monografia que preste, garantindo a aprovação. Facilitou bastante, então, ter este sãopaulino ao lado, ajudando em situações boas e ruins e mostrando que Tá Tudo Interligado.

De coração

Assistindo as transmissões de futebol pela televisão de hoje em dia eu sempre chego à conclusão de que qualquer eu pode ser comentarista. É a coisa mais fácil do mundo, basta um pouco de atenção e meia dúzia de frases prontas. Falando nisso, em breve nesta coluna não percam o manual do comentarista de futebol da TV.

Uma coisa que melhoraria muito a minha visão a respeito desse pessoal seria o abandono da pseudo-neutralidade que eles tentam passar. A gente sabe, fica claro que determinado narrador está torcendo para um time durante a transmissão, mas os caras insistem em negar isso.

Essa imparcialidade parcial tem que acabar! Imaginem que divertida seria a narração que fosse feita sem a preocupação de tentar esconder a paixão que o narrador certamente sente: “Bucha! Gol do meu time! Chuuuuuuuuuupa!”.

O Luciano do Vale, da Band, que é torcedor declarado da nada comprometedora Ponte Preta, disse certa vez que é muito mais gostoso narrar jogo da Seleção porque ele não precisa ficar se contendo e pode botar mais emoção nos seus comentários. Pra quê isso? Grita gol da Ponte Preta do jeito que tu tem vontade!

Outro dia, inclusive, dei muita risada quando um dos narradores da Globo se confundiu e chamou o Flamengo de Brasil.

A inspiração pra este post me veio nesse domingo de manhã, enquanto eu assistia ao Grandes Momentos do Futebol na TV Cultura. Eles mostraram os gols de um Flamengo 3 x 1 Vasco no tempo do Zico. Não foi mencionado o nome do narrador e eu também não consegui identificar, mas todos deviam seguir o exemplo do cara. Primeiro gol do Flamengo: indignado, se calou esperando a grande maioria flamenguista dos 175mil torcedores parar com o alvoroço para no fim disparar um “Não é possível! Menos de um minuto?” (O rubro-negro abrira o placar com 27 segundos de jogo.). E no terceiro: a mesma reação e um desanimado “pois é… 3 a 0…”. Quando o Vasco diminuiu ele soltou um urro que parecia que o Vasco tinha feito um gol de título de Libertadores!

O telespectador repara no comportamento da equipe de jornalismo, sabe que puxam o saco de certos times. Se esse partidarismo fosse exposto abertamente e sem falsidade, talvez seria menos antipático da parte deles. Eu, pelo menos, diria: Quer torcer pro Curintia? Azar o dele!

Com voces, futebol:

There will be Oscar

Sangue Negro (There Will Be Blood)
5/5

Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson, livremente baseado no livro de Upton Sinclair.

Elenco
Daniel Day-Lewis (Daniel Plainview)
Dillon Freasier (H.W. Plainview)
Paul Dano (Eli Sunday)

Daniel Plainview é um prospector que, após muito trabalho, encontra uma terra cheia de petróleo em uma pequena cidade do Oeste. Conforme seu negócio começa a prosperar, ele encontra um rival no pastor local, e sua ganância cresce a níveis suficientes para receber uma indicação ao Oscar.

Paul Thomas Anderson é um dos diretores mais elogiados pela crítica especializada, principalmente por causa do seu (excelente) Magnólia, de 1999. Em Sangue Negro, ele demonstra que toda a babação de ovo é justificada: a partir da trajetória de seu protagonista, ele constrói um poderoso filme sobre ganância e ambição.

Aliás, e que protagonista. Auxiliado pela interpretação monstruosa de Day-Lewis, Daniel Plainview é um homem sem ligação nenhuma com a humanidade – exceto, é claro, naqueles contatos que precisa fazer para buscar petróleo. O cara é tão anti-social que até mesmo pegou um órfão para dizer que é seu filho e, assim, estabelecer uma imagem de homem de família frente aos seus clientes.

Ao longo da narrativa, portanto, vamos descobrindo como a ganância cega o protagonista. No momento em que uma das torres de petróleo estoura, e seu filho se machuca, Daniel o leva para um local seguro e volta para consertar o problema. Quando alguém questiona “H.W. está bem?”, ele responde “Não, não está.”, sem mover um músculo para ir em direção ao guri. O plano que se segue, onde o rosto do protagonista é parcialmente iluminado pelas chamas, ilustrando toda sua ambição e egoísmo, chega a ser assustador.

Mesmo assim, H.W. é a única pessoa pela qual Daniel parece ter pelo menos algum afeto – e a ausência do piá, em determinado momento, faz com que o cara acabe acreditando na história de um vigarista e aniquilando de vez sua confiança nas pessoas. De resto, o Plainview só pensa nos negócios, e é por isso que a constante intervenção do pastor Eli nas perfurações se torna um incômodo. Na verdade, é uma disputa entre as duas forças que construíram a California: petróleo e religião. Ambos procuram manipular as coisas a favor de seus interesses (econômicos e/ou políticos), conquistando assim a hegemonia do lugar.

A ascensão do prospector de Sangue Negro, portanto, é a demonstração de que a ganância superou quaisquer outros atributos que tenham sido apresentados. No momento em que Daniel alcança exatamente o que busca, todas as falhas de caráter e demonstrações de egoísmo que ele produziu foram recompensadas, criando assim um monstro que busca viver cada vez mais fechado dentro da própria ambição. Seus muros são a proteção contra todos os indesejados (soa familiar?). Suas atitudes não encontram mais ecos de razão. O protagonista tornou-se uma força tão grande que conseguiu repelir a todos, ficando apenas com a riqueza que acumulou nos anos de trabalho.

E por isso a última fala do filme, vinda de um homem fechado dentro de si e que vive apenas para alimentar seu egoísmo, tem um duplo sentido que encerra a produção de forma brilhante.