A Fantástica Loja de Trocadilhos

– Bom dia, senhor.

– Bom dia. Isso é de verdade?
– O que, senhor?
– Essa história de “loja de trocadilhos”.
– Certamente que sim, senhor. É um ramo de negócios extremamente procurado. Atendemos clientes das mais variadas profissões, status, renda mensal, bagagem cultural e mais.
– Tá, mas vem cá, como funciona?
– Simples, senhor. O senhor nos informa qual é a sua necessidade e nós construímos uma solução adequada para ela.
– Certo. Então digamos, sei eu, digamos que eu chegue aqui e diga que preciso de um trocadilho legal para um filme chamado “A Bolha Assassina”.
– Neste caso, senhor, nós lhe forneceríamos um pequeno briefing com algumas perguntas para identificar qual solução se adequaria mais ao seu problema.
– Incrível. Então vocês são realmente de verdade.
– Com certeza, senhor. Possuímos sede própria, website próprio, metas a atingir, CNPJ, missão, visão, valores, tudo que se aplica a qualquer empresa de negócios tradicional se aplica à nossa, senhor.
– Missão, visão e valores?
– Exatamente, senhor. Nossa visão é ser o melhor e mais lembrado fornecedor de trocadilhos do país; nossos valores são a conduta ética, comunicação clara e relacionamento transparente com clientes e colaboradores; e nossa missão é conquistar a Europa e a Oceania ou 24 territórios à nossa escolha, senhor.

A Fantástica Loja de Trocadilhos

– Boa tarde, senhor.
– Hm… boa tarde.
– Em que posso ajudá-lo?
– Ahn.. aqui é a tal loja de… trocadilhos… certo?
– Correto, senhor. Aqui mesmo.
– Pois é. Eu… bem, eu precisava de um trocadilho…
– Pois não. O que o senhor deseja?
– Como assim?
– Em que tipo de situação ou evento o senhor gostaria de utilizar o trocadilho?
– Ah. Bom, é o seguinte: eu sou um empresário bem sucedido no ramo musical. Mas estou mudando de área, porque trabalhar com arquitetura sempre foi o meu sonho, sabe?
– Entendo, senhor.
– Pois é. Eu sei que todo mundo vai me perguntar por que eu fiz isso, por que estou me arriscando, essas coisas. E eu queria ter uma resposta legal, uma sacada na ponta da língua. Por isso vim até a loja.
– Compreendo perfeitamente, senhor. Um momento que eu vou pesquisar no catálogo para encontrar algo a seu gosto.
– Tá. É esse computador que cria os trocadilhos?
– Não, senhor, eu apenas utilizo ele para pesquisar no catálogo. Computadores estão aptos apenas a calcular, não pensar.
– Ah…
– Bem, o senhor quer algo que explique o motivo pelo qual abandonou a música e resolveu virar arquiteto, né? Eu tenho um “porque me deu na telha” em promoção, se lhe agradar.
– Hm. É bacana, é bacana. Só que sei lá, eu queria algo mais… mais altivo, sabe? Mais elegante. Que eu pudesse falar em uma festa, pra impressionar as mulheres e coisas do gênero.
– Entendo. Deixe-me olhar novamente o catálogo… Sim, tenho algo nesse modelo. O que o senhor acha de “porque estou construindo uma nova etapa da minha vida, com trabalho, projetando grandes conquistas e desenhando um futuro cada vez mais feliz”?
– Perfeito! É exatamente o que eu queria! Criativo, inteligente e emocionante. Além de uma reposta de nível, vai atrair as mulheres. Vou levar.
– Muito bem. Deixe-me imprimir uma cópia do texto e salvá-lo também em cd para o senhor.
– Valeu mesmo. Vai me ajudar muito. Me diz uma coisa, vocês aceitam cheque?
– Apenas se a peça estiver ameaçando o Rei, senhor.