As melhores de 2008

O ano de 2008 foi marcado por altos e baixos, desde a crise mundial com o mercado financeiro enlouquecido ao futebol com as irregulares campanhas dos tricolores gaúcho e paulista. Paralelemente, o elenco do Cataclisma 14 finalmente saiu da faculdade – não se sabe se por cima ou se por baixo, é verdade – e deu de cara com a dura realidade.

Mas tudo isto se deu, é claro, sem perdermos o bom humor. Em termos qualitativos, a tradicional série “As melhores de” está ficando pior a cada ano, conforme a equação 2005 > 2006 > 2007 > 2008. Mesmo assim, a retrospectiva vale o registro:

“Feliz ano novo pra você e sua filha!”
Leandro tentando desejar o melhor à Thiago e sua família, e aumentá-la também.

“Agora? Põe o pinto pra fora e mija?”
Rafael respondendo uma pergunta sobre informática. Sério, sobre informática.

“Retardadobier”
Neologismo cunhado por Thiago para um desafeto.

Leandro: “É ‘no Dublin’, e não ‘na Dublin’, porque é ‘no Opinião’, e não ‘na Opinião’.
Thiago: “É, mas na minha Opinião é na Dublin!”

“Só porque ela é puta não quer dizer que também é corrupta”
Uns gastam U$ 20 milhões numa viagem à Lua; outros especulam se Tia Carmen facilitaria o acesso às suas sobrinhas…

“Se já temos fogo? O que acha que somos? Macacos?”
Cataclisma 14 faz várias considerações sobre tribo indígena isolada no Acre.

“Ele não precisa do GPS: Deus sabe onde ele está”
Cataclisma 14 faz várias considerações sobre o padre voador.

“Cuida pra não ser muito obsceno: minha vó vai estar lá”
Thiago pedindo cautela aos amigos na composição de seu jingle de formatura.

“Depois ela não vai parar de cantar!”
Thiago, completando.

“Thiago! Motorista! Não capota mais na pista!”
O jingle, no fim, foi uma releitura de um hit de 2007.

“Você sabe que está velho quando vira sócio e paga pra não pegar fila na compra de ingressos pro jogo do seu time. E o fato que impulsiona essa atitude é a iminente perda de validade da sua carteira de estudante”
Cataclisma 14 faz várias considerações sobre estar velho.

“Éééééérh!”
Rafael imitando a velha que o apavorou no hospital.

“Estaremos descarrados”
Como viemos a ficar, segundo Thiago, depois que o Celtinha voltou pra SP.

“Na quinta dos infernos!”
Leandro sobre a remota possibilidade de Thiago reaver na quinta-feira um casaco esquecido na chapelaria do bar.

“Ela não é baixinha. Ela é da altura de um boquete”
******, sobre *******.

“Ela é tamanho pocket. Ou melhor, tamanho bocket!”
******, ainda sobre *******.

“É o Kaká naquele anúncio da Kaká-Cola?”
Leandro e Thiago entretidos com um outdoor durante a pouco empolgante Corrida pela Vida.

“Ô coisinha tão bunitinha Dubai”
Thiago sobre o palco do próximo Mundial da Fifa.

“Sábado a gente joga o dia passando play2”
André, claramente passando play2 de mais.

“Aracnomanfobia”
Thiago sobre quem tem medo de Homem-Aranha.

“WaaaZéééé!”
“WaaaZaffari!”
“WaaazHeeeexa!”
Variações de um clássico.

“Só cuida porque pode ter roseta!”
Thiago alerta sobre levar pra casa um pouco de grama do Zequinha Stadium.

“Eu comia aquela n******a”
******, considerando.

“Deve tá jogando com o Recreativo Vulvo”
Bruno… o quê mesmo?

“O Peru deu uma bola fora”
“O Peru não pode ficar de fora”
“O Peru está sendo retirado”
E outras tantas pobres e triviais considerações sobre a polêmica das vagas do Peru na Libertadores. No fim o Peru entrou nas próprias vagas, ou seja, se fudeu.

“Entra em campo o Atlético Sorocaba, do goleiro Buzzeto”
Bruno desencadeando uma série de pobres e triviais considerações sobre o arqueiro do Galo sorocabano, tipo “Buzzeto está evitando vários cruzamentos”, “Buzzeto está jogando fechado” e “Buzzeto tem a melhor saída de bola”.

“O São Paulo vai levar um gol do Paulo Baier do Goiás, que vai dar o campeonato para o Grêmio, que vai contratar Paulo Baier para o elenco de 2009, que vai ser campeão da Libertadores com gol heróico do herói gremista Paulo Baier!”
Ou mais ou menos assim foi elaborada a mais criativa e ingênua flauta que Leandro teve que escutar esse ano

“O Grêmio não entregou, o Grêmio ROTHIOU”
André reconhecendo o desempenho broxante do tricolor gaúcho no Brasileirão 2008.

“Loira monumental aqui é copo de chopp bem grande”.
Leandro morando em São Paulo, deprimido.

“Uma idéia é mudar o nome ‘As Melhores de 2008’ para ‘As Medianas de 2008’, e poder entrar qualquer bobagem medíocre pra lista, que tal?”
Leandro tentando salvar de qualquer maneira o post mais tradicional do ano.

“Ah aazlelel aão ao ao mundo!”
Frase que salvaria essa lista de melhores… se alguém conseguisse decifrar o áudio de sua gravação.

Apesar dos pesares, é mais um ano que se passa e do qual sentiremos saudade.

Valeu por 2008, bróóóders!

Retorno (II)

Durante sete anos (1994 a 2000, da quinta série ao final do ensino médio), este que vos escreve foi um orgulhoso, participativo e dedicado aluno marista. Orgulhoso, pelo menos nos primeiros anos, por estudar em um colégio da mesma linhagem de Rosário, Assunção e Champagnat (com o tempo, descobri que éramos o primo pobre desses outros, e o tal do orgulho foi pro saco). Participativo, pois cheguei inclusive a compor o grêmio estudantil da instituição durante 1999 e 2000, meus últimos anos por lá. E dedicado, porque… ah, eu nem era tão dedicado assim, deixa pra lá.

Pois no final de 2006, o Colégio Marista Irmão Weibert – “devido à sua má administração”, li num site – decretou a falência e foi comprado pela Arquidiocese de Porto Alegre, tornando-se o Colégio Senhor Bom Jesus (os mais memoriados leitores desse blog lembrarão que eu já falei sobre isso). E tal transação enterrou de forma definitiva um território com os qual eu havia criado laços, mas que não existe mais – não da forma como existia.

É estranho pensar o quanto a instituição – e não o lugar – carregava consigo a minha noção de território. Afinal de contas, o prédio de três andares com salas de aula, biblioteca e laboratórios ainda continua de pé; o ginásio continua lá, bem como a capela, o salão e as quadras de cimento, ao lado dos postes onde jogávamos espirobol. Mas o espaço físico em si não me diz mais nada: sabendo que não se trata mais do Irmão Weibert, daquele Irmão Weibert, passar ali pela frente é como enxergar uma cidade que, embora me pareça familiar, não me deixa à vontade, não me revela nenhum vínculo.

Ao contrário de outros territórios da minha vida, a este será impossível retornar, senão através de fotos, recordações e uniformes antigos guardados no meu roupeiro. O colégio continua lá, o lugar ainda existe; mas o território, o que realmente importa, este sim, desapareceu completamente.

2008 sob as lentes

Lista dos filmes mais batutas que passaram pelas minhas retinas em 2008 – obviamente esqueci algum, então sintam-se à vontade para avacalhar com a minha memória e citar nos comentários as películas não-lembradas. Enfim, segue a lista de destaques do ano, com o título em português, o título original e o nome do diretor:

Morte no Funeral (Death at a Funeral, Frank Oz)
Sangue Negro (There Will Be Blood, Paul Thomas Anderson)
Os Indomáveis (3:10 to Yuma, James Mangold)
Juno (idem, Jason Reitman)
Na Natureza Selvagem (Into the Wild, Sean Penn)
Saneamento Básico (idem, Jorge Furtado)
Mr. Vingança (Boksunen Naui Got, Park Chan-Wook)
À Prova de Morte (Deathproof, Quentin Tarantino)
Speed Racer (idem, Andy Wachowski e Larry Wachowski)
Homem de Ferro (Iron Man, Jon Favreau)
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, Steven Spielberg)
O Sobrevivente (Rescue Dawn, Werner Herzog)
Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, Wes Anderson)
Sunshine – Alerta Solar (Sunshine, Danny Boyle)
Chumbo Grosso (Hot Fuzz, Edgar Wright)
Do Outro Lado (Aud der Anderen Seite, Fatih Akin)
Não Estou Lá (I’m Not There, Todd Haynes)
Mandand Bala (Shoot’em Up, Michael Davis)
[REC] (idem, Jaume Balagueró e Paco Plaza)
Deixa Ela Entrar (Låt den rätte komma in, Tomas Alfredson)
Vicky Cristina Barcelona (idem, Woody Allen)
Queime Depois de Ler (Burn After Reading, Joel e Ethan Coen)
Apenas Uma Vez (Once, John Carney)
Wall-E (idem, Andrew Stanton)
Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, Fernando Meirelles)

A decepção do ano: Fim dos Tempos (The Happening, M. Night Shyamalan)

Fim dos Tempos nem é tão ruim assim mas, considerando o descomunal currículo de Shyamalan (O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais, A Vila, Dama na Água), ele acaba tornando-se pobre tanto em conteúdo quanto em estética. Que o indiano volte a ser criativo em seus novos projetos e nos poupe de diálogos entre humanos e árvores de plástico.

Bem, como o importante não é competir, e sim ganhar, eis o Top 3 cinematográfico do ano:

3 – Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, Joel e Ethan Coen)

O premiado filme dos Irmãos Coen traz não apenas um psicopata com o pior penteado da história (mas que é titular da equipe), como também uma reflexão sobre a violência gratuita e a nossa posição frente à ela. Quando o filme acaba, percemos que ficamos tão surpresos e, principalmente, indefesos, quanto o xerife interpretado por Tommy Lee Jones (embora menos enrugados). E por falar em psicopatas…

2 – Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, Christopher Nolan)

Quem diria: um playboy que se fantasia de morcego de noite estrelou um dos filmes mais densos e pesados da temporada. O fato é que o confronto entre Batman e Coringa, os dois lados da mesma moeda, resultou em uma história que traz à tona o desespero que toma conta das pessoas quando a única regra é simplesmente não ter regras. E associa o significado da palavra “herói” ao da expressão “sacrifício”, colocando o homem-morcego como um solitário, carrancudo e eternamente amargurado guardião.

1 – O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, Andrew Dominik)

Tá, eu sei que foi lançado ano passado, mas como as distribuidoras ignoraram Porto Alegre assim como o Ronaldo ignorou o Flamengo, só tive a chance de assistir esse ano. E é absolutamente brilhante a forma como o filme foi conduzido, com calma, explorando as personalidades de James e Ford, contrastando o cansaço de um com a insegurança do outro. São três horas de película que passam voando graças aos diálogos econômicos, à paisagem opressiva e ao fascínio provocado pelo fora-da-lei, em uma interpretação que, por si só, dá a Brad Pitt status suficiente pra ter a Jennifer Aninston e a Angelina Jolie no seu currículo.

Agora é preparar as retinas para 2009. Feliz ano novo a todos.

Notas Curtas Sobre o Fim do Mundo

Um dia desses aí a FIFA, Federação Inacreditável de Futebol Amador, veio a público para apresentar a pelota oficial da Copa das Confederações 2009.

Não riam, é verdade: jornalistas e fãs se reuniram em algum lugar do mundo para presenciar o lançamento de uma prima distante daquele objeto que fica debaixo da tua cama. Não apenas isso como CONCEBERAM uma série de explicações para justificar o design da dita-cuja – e se vocês acham que botar uma bola fora de seu habitat natural (qualquer espaço onde possa ser BICADA em direção ao gol) e ofendê-la com elementos da gestalt não serve pra nada, estão enganados: agora as lojas vão poder cobrar cinco vezes o que a pelota realmente vale.

Saudades do tempo onde o interessante do futebol não era a bola, e sim o que os jogadores faziam com ela.

Trocando os pés pelas mãos. – parte 2

Aquela sapatada postada um pouco abaixo acabou provocando diversos efeitos diferentes além do que era a intenção do repórter descalço. Algumas até contrárias, de certa forma, ao sentido de sua manifestação.

Li ontem uma entrevista com o dono da fábrica dos sapatos que protagonizaram o incidente e ele se mostrava plenamente satisfeito com a alavancada que o gesto do jornalista proporcionou em seu faturamento. De uma semana pra ca foram encomendados mais de 300mil pares dos sapatos, que agora foram rebatizados de “Sapatos Bush”. Um número muito mais expressivo do que havia alcançado desde o lançamento (do modelo no mercado, não do repórter no premier) há cinco anos.

Para não dizer que o maior trunfo publicitário do qual a marca de calçados lançou mão em toda a sua história saiu de graça, o dono da fábrica, que tem sua matriz na Turquia, prometeu fazer um descontinho especial para a família do jornalista.

O sapato que pretendia pisotear a maior potência capitalista do mundo acabou servindo de primeiro passo para um outro tipo de invasão capitalista.

Retorno (I)

Tudo começou em 2002. Vinte e oito de outubro, pra ser mais exato. E terminou cinco anos e (quase) quatro meses depois. Cinco anos de faculdade – de amizades, de aulas matadas, de sinuca, de cerveja na tia Vilma. Pois bem: em fevereiro dei adeus a esse mundo e me formei. Final de agosto, comecei a trabalhar na UFRGS. E na terça-feira última (16/12), tive de retornar à Fabico para acompanhar a cerimônia de transmissão do cargo de diretor.

Passamos boa parte da faculdade – eu e a maioria de meus colegas – reforçando a nós mesmos o quanto a Fabico era ruim. O quanto as aulas eram matadas, o quanto era ridiculamente fácil passar em algumas várias cadeiras, o quanto a estrutura, os professores e os servidores deixavam a desejar.

Mas colocar os pés novamente no ambiente fabicano provocou em mim uma sensação diferente. Um pouco porque muita coisa havia mudado por lá – o segundo e o terceiro andar são irreconhecíveis àqueles que, como eu, esperaram por muitos anos a saída da gráfica do prédio da faculdade e a reforma dos laboratórios de foto, áudio e vídeo do terceiro andar. Mas a sensação diferente não foi só essa.

Na verdade, o mais estranho foi sentir, lá no fundo, uma espécie de orgulho que nunca me tocou enquanto estive por lá. Olha para aquele prédio, entrar nele e ver novamente aquele espaço que por muito tempo foi meu território – o saguão, o auditório, a 408 (única sala do mundo com um pilar no meio), a mesa de sinuca do Dacom – me trouxe um tipo de alegria que eu não lembro de ter sentido nem quando entrei na faculdade, lá no longínquo outubro de 2002.

Começo a desconfiar que o sentimento de ser fabicano é mais ou menos o mesmo de ser porto-alegrense: a gente diz que a cidade é ruim, que não presta, que não aguenta mais ficar por aqui, mas é só algum estrangeiro reclamar (do frio, do calor, do congestionamento, do barulho, da provicianidade), que a gente bate no peito e diz: “Não fala assim: esse é o melhor lugar do mundo”. E daí dobra a esquina e reclama de tudo aquilo com o próximo proto-alegrense que a gente encontra.

Ao recepcionar o Vice-Reitor na entrada, tomei a liberdade de dizer: “Seja bem-vindo”. Eu não estava recebendo-o em uma unidade qualquer da UFRGS; eu o estava recebendo na minha casa. Porque eu descobri que, mesmo depois de dar adeus, lá em fevereiro, aquilo continua sendo meu território.

Retornos

Essa semana, depois de uma passada na Fabico (a trabalho), me ocorreu a idéia de escrever sobre Retornos.

Costuma-se dizer que a melhor parte de uma viagem é a volta pra casa; costuma-se dizer que “o bom filho à casa torna”; costuma-se dizer que não há lugar como a nossa casa. O fato é que, se as idas nos propiciam a descoberta do novo, as vindas nos restabelecem a segurança. Enquanto as idas nos apresentam novidades de tirar o fôlego, as vindas nos fazem respirar aliviados por estarmos novamente no nosso território.

Diante disso, pretendo escrever alguns textos sobre alguns Retornos meus – realizados, possíveis ou impossíveis. Não tenho a pretensão de iniciar uma série, até porque não sei até onde meus retornos podem resultar em histórias interessantes. Mas espero conseguir inspirar outros a fazerem o mesmo – quem sabe não seja uma forma de fazer com que os leitores retornem a esse blog, um tanto quanto esquecido nos últimos tempos.

Trocando os pés pelas mãos

Mostrando estar por dentro da tendência “in” de usar armas químicas, um jornalista chutou o balde e tentou assassinar o presidente George W. Bush Jr. à chulezadas:

Algo não está cheirando bem nessa história

Felizmente o serviço secreto entrou na dança antes que o sujeito tirasse as meias e repetisse Chernobyl. Como este é um blog que não torce o nariz para questões políticas, há apenas um comentário a ser feito: tal acontecimento mostra que o jornalismo mundial está mais por baixo do que sola de sapato.

Família, crianças e judeus sendo queimados

O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pyjamas)
2/5

Direção: Mark Herman
Roteiro: Mark Herman

Elenco:
Asa Butterfield (Bruno)
Jack Scanlon (Schmuel)
Vera Farmiga (Mãe)
David Thewlis (Pai)
Amber Beattie (Gretel)

Durante a segunda guerra mundial, uma família alemã se muda para um complexo militar/casa onde o pai, comandante do exército, trabalha em prol das causas nazistas. Enquanto as mudanças afetam a todos de diferentes formas, o garotinho caçula, Bruno, acaba fazendo amizade com um menino judeu que está dentro de um campo de concentração.

Histórias envolvendo o Holocausto são, por si só, dramáticas o suficiente para deixar alguém arrasado. É com inteligência, então, que o filme começa identificando a família de Bruno não como “monstros nazistas”, mas sim como pessoas que simplesmente vão se adaptando à realidade conforme ela os atinge. Assim, ao longo da película, a inclinação de Gretel à doutrina alemã da época e a indiferença do patriarca aos abusos contra os judeus acertam o espectador com mais força (da mesma forma, a direção de arte faz bem ao retratar a casa antiga de forma aconchegante e sinuosa, enquanto o complexo militar é dotado de linhas retas e cores frias).

É uma pena que o filme desande justamente quando deveria ficar interessante: a partir do encontro entre os dois piás. Se por um lado as histórias paralelas ganham força (principalmente as dúvidas da Mãe quanto ao trabalho do marido), por outro a relação entre os dois guris não chega a comover (embora não soe falsa). A química entre os atores existe, mas o roteiro não chega a desenvolver a questão, apenas apresenta situações que ilustram a inocência de Bruno frente ao amigo sem trabalhar a amizade e lealdade de ambos (o que faz uma falta incrível no final do filme).

Por falar em final, eis o grande problema da película: o espectador sai com a impressão de que o diretor teve a idéia de um final chocante (no sentido de deixar o cara incomodado, não um final SEXTOSENTIDONESCO) e simplesmente bolou um caminho para chegar até lá, sem se preocupar muito com ele. É impactante? É. Só que soa gratuito, não condiz com o resto do filme. E uma obra que utiliza uma tragédia de forma leviana, apenas para arrancar algumas lágrimas no final, não merece ser levada muito a sério.

Pré-liculosidade

Hoje fui no Cinemark localizado no Barra Sul Shopping, o mais novo “templo do consumismo” de Porto Alegre. Ao chegar na bilheteria, peço um ingresso para o filme, como sempre. Já estava preocupado, pois o relógio denunciava o meu atraso para o início da sessão, quando a atendente mostra um monitor cheio de números dispostos como as cadeiras da sala de cinema e pergunta:

– Qual assento, senhor?
– Como assim?
– O senhor pode escolher seu assento. Qual vai querer? É só dizer o a fila e o número.
– Mas… mas eu nunca VI a sala. Como vou decidir assim? Não posso simplesmente entrar no cinema e escolher o meu lugar?
– Não, pois o senhor poderia escolher um assento já vendido ou alguém poderia comprar o assento que o senhor escolher.
– … então seria mais fácil simplesmente não vender assento pra ninguém, concorda?
– Senhor, estou apenas seguindo o protocolo.
– Vê, é como se eu convidasse alguém até a minha casa e, antes da pessoa entrar, eu falasse “olha, tu pode escolher entre o sofá de frente para a janela ou o de frente pra televisão, qual vai querer?”.
– Senhor, não temos outra opção de compra a não ser com o assento marcado.

Vencido pelo sistema, escolhi a fileira M, uma das que ficam no fundão. Assento número 14 – se ao menos fosse o inverso, e o assento C14 fosse um lugar bom, eu ficaria menos incomodado com toda essa história.