De pizzas e respostas

A sociedade atual se sustenta em duas bases delicadas: a pizza congelada e as respostas vagas. A primeira, ao contrário do que muitos pensam, não é a Shangri-La dos solteiros, e sim o ônibus deles – afinal, apesar de dura e desalmada, é ela quem faz a rotina se mover. Sem essa pizza congelada, estariam todos os solteiros condenados a uma existência de mendigância em restaurantes, padarias e, principalmente, carrinhos de cachorro-quente. Disso podemos concluir que toda a auto-estima dessa espécie reside em um produto de substâncias químicas desconhecidas pelo homem e embrulhado em uma embalagem chinfrim. Um pensamento nada animador, certamente.
Já as respostas vagas possuem tanto ou mais recheio do que as pizzas congeladas. Elas se resumem a uma lista de frases e perguntas pré-selecionadas que devem ser aplicadas em momentos-chave de conversas com estranhos. Vamos pegar os diálogos trocados em academias, por exemplo: eles são uma simples troca de senso comum, onde os interlocutores simplesmente dançam em volta do bom senso até que possam cada um seguir seu caminho. E é através dessa superficialidade de discursos que, varrendo opiniões pra debaixo do tapete, pessoas não se sentem ofendidas, egos são mantidos e o maior medo das pessoas (passar por idiota) é repelido pra longe.
Ah sim, e tem mais uma semelhança entre as pizzas congeladas e as respostas vagas: ambas não tem gosto.

Só um pensamento

Vocês perceberam que, ao chegarmos em um exato ponto onde boa parte das pessoas finalmente tem um canal para dizer o que quiser da forma que quiser e em quantas palavras/vídeos/qualquer coisa quiser, parece existir um movimento procurando enaltecer justamente a comunicação curta, preguiçosa e superficial?

O melhor tuíte de 140 caracteres (e existem muitos ótimos) ou o melhor post no 9gag (e existem muitos ótimos) sequer fazem sombra aos melhores livros/artigos ou filmes ou histórias em quadrinhos ou etc. A impressão que eu tenho é a de que entramos em um buffet livre apenas para encher o prato de alface. Entramos no cinema só pra assistir aos trailers. Torcemos para ganhar a Copa do Brasil pelo título em si, e não pela Libertadores.

Sugiro deixarmos esse comportamento de lado e investirmos também em coisas mais elaboradas, que exigem um comprometimento maior. Quando boas, o resultado delas é bem mais satisfatório, podem acreditar. A vida não é apenas uma punchline.