Sushi não faz sentido

Toda vez que alguém comenta que comeu/está comendo/vai comer sushi, eu lembro de um filme que assisti em uma aula do colégio, “A Guerra do Fogo”, onde uma tribo precisa enfrenta diversas intempéries para conseguir uma nova tocha depois que a sua apagou, já que eles não manjam de fazer o fogo e tal. E não é a determinação que leva eles a superarem as coisas, mas sim o instinto de sobrevivência, já que o fogo afasta predadores, aquece, ilumina e, além disso tudo, torna os alimentos infinitamente mais saudáveis e saborosos. Foi o fogo que possibilitou invenções humanas essenciais à vida, como o canelone.
Milhares de anos depois, as pessoas desdenham de todas essas conquistas e resolvem comer carne crua. Vê se pode.

O favor que a Sony fez ao Brasil.

Há um tempinho, a Sony chegou no Brasil com o seu terno Armani e dentes de ouro e anunciou, para o infortúnio de milhões de, abre aspas, gamers, fecha aspas (porque gamers não é a mesma coisa que jogadores. Gamers é descolado. É maroto. É passível de ser vendido em camisetas e adesivos) que o seu Playstation 4 custaria R$ 3.999 na terra do futebol e da garrafada d’água no Justin Bieber. Claro que a galera chiou e protestos foram organizados e hashtags foram criadas e a Sony, ciente da incapacidade canarinho de resistir ao consumismo por mais que o produto custe uma faculdade, manteve o preço e divulgou uma equação matemática dizendo que infelizmente eles estão de mãos atadas, que a culpa é dos impostos, das estradas, dos custos, que e é isso aí, que estão fazendo o melhor, que são as vítimas e que bola pra frente.
Entretanto, o que à primeira vista parece um movimento onde a Sony baixa as calças do usuário e passa vaselina e toma quinze viagras se mostra na verdade um panfleto que é basicamente um passo a passo de como a vaca vai pro brejo. Pensem a respeito. O valor do videogame é ridículo, e não digo aqui ridículo como um sinônimo estranho/hipérbole de caro, mas sim ridículo no sentido de patético mesmo, quase engraçado (dá até pra imaginar uma fictícia cena de um fictício Corra Que a Polícia Vem Aí onde o saudoso Frank Drebin vai comprar um videogame, descobre que ele custa quatro mil e pergunta “Quatro mil? Mas por que é tão caro?” e o cara responde “Porque tem um 4 no nome ao invés de um 3”). A taxação em cima do produto é claramente e desproporcionalmente exagerada. Os custos de distribuição, graças à ausência de um Velho Oeste tupiniquim que inevitavelmente obrigaria a construção de ferrovias, exibem uma logística intrincada para algo simples, característica bem típica das personagens de comédias pastelão. A cara de pau da Sony em ter a cara de pau de fazer uma explicação bastante questionável enquanto embolsa uma margem morbidamente obesa, claramente não dando a mínima para o que quer que seja, é a cereja nesse bolo de desvirtualização total. A coisa toda é tão absurda que olhos mais desatentos poderiam pensar se tratar de uma sátira.
Mas claro, nada de sátiras, a Sony está tão séria quanto possível e os consumidores também (deve ser o maior número de gente séria quando do anúncio de algo divertido da história). Afinal, estamos falando de mercado, de salários, de status, de poder de aquisição, de justo e injusto, e não dá para encarar todas essas coisas importantíssimas como um jogo – perdão, um game.