De Tarantino, peixes e temas profundos

Bastardos Inglórios: O Roteiro Original do Filme – Quentin Tarantino
Apesar de uma introdução que, de tão SEM VERGONHA, quase fez minha alma sair correndo, o livro é assaz divertido: além de oferecer algumas diferenças com relação ao roteiro final do filme, a PAPELADA mostra como Tarantino se empolga com as coisas (ele provavelmente escreve com uma mão enquanto corre pela rua com o outro braço erguido em comemoração), jogando adjetivos e referências pouco pertinentes apenas pelo festerê. Uma boa opção pros fãs do diretor confirmarem que ele é o nerd mais descolado do mundo e pros outros continuarem achando ele estranho às ganha.

Shosanna volta ao espelho, coloca um elegante chapéu na cabeça e abaixa o fino véu negro para cobrir seu rosto. Ela pega uma pequena ARMA e a coloca no bolso de seu vestido, e está pronta. Ela sai do apartamento para participar da estréia. De agora em diante, não há mais volta. É até o fim, baby, até a porra do fim!

O Velho e o Mar – Ernest Hemingway
Impressionante como Hemingway consegue, através de uma linguagem simples e direta, abrir uma portinha no coração do leitor e colocar a história lá dentro. É quase impossível segurar o livro com o tanto de carisma e ternura que transbordam do velho Santiago e do menino. E ainda sobra espaço pra narrar uma batalha épica entre homem x natureza, traçando as semelhanças e diferenças entre Santiago e o peixe, envolvendo até a última gota de emoção do leitor até o melancólico desfecho. Juro que, após a leitura, tive vontade de DORMIR ABRAÇADO com o livro.

Falam do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de um inimigo. Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evitá-lo. “A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres”, refletiu o velho.

Os Adeuses – Juan Carlos Onetti
Os Adeuses é um livro difícil. Apesar de curto, tem uma linguagem rebuscada e trata de temas complexos, obrigando o leitor a se confrontar com suas próprias perspectivas sobre tais temas. Basicamente, é como o futebol do clássico camisa 10: lento, cadenciado, pensativo, sempre buscando o que há de mais importante à sua volta e abordando a situação nem sempre pelo ângulo mais óbvio, mas sim pelo mais pertinente. E que, ao final, deixa pra trás aquele rastro de melancolia que todo livro reflexivo consegue provocar.

O homem conversava com vertiginosa constância, acariciando nas curtas pausas o antebraço da mulher, erguendo parágrafos entre eles, acreditando que os montões de palavras modificavam o aspecto da sua cara enfraquecida, que algo de importante podia ser salvo enquanto ela não fizesse as perguntas previsíveis.

Comendo ganância no café da manhã

Wall Stret – O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps)
4/5

Direção: Oliver Stone
Roteiro: Alan Loeb e Stephen Chiff

Elenco
Shia LaBeouf (Jake Moore)
Gordon Gekko (Michael Douglas)
Winnie Gekko (Carey Mulligan)
Josh Brolin (Bretton James)
Frang Langella (Louis Zabel)

Após ser preso por tocar o terror em Wall Street, Gordon Gekko sai do xilindró e busca uma reaproximação com sua filha – que, no caso, está namorando Jake Moore, também ele um dos engravatados de Wall Street. Daí os três e um monte de engravatados se envolvem em um monte de maracutaias com dinheiro e investimentos, enquanto Oliver Stone desfila algumas metáforas visuais e ideias anti-capitalismo.

É quase um choque ver tudo que mudou e não mudou nesse meio tempo entre o primeiro e o segundo Wall Streets (ambos dirigidos pelo tiozão Oliver Stone): saem os computadores estilo PENSE BEM e entra a tecnologia avançada, com monitores LCD e a filosofia “no disquetes allowed”; fica a turba de executivos espremidos em uma sala, falando ao telefone feito MOCINHAS e vomitando um bando de porcentagens e juros aleatórios. Ou seja, em vinte anos as máquinas evoluíram e o negócio não.

Com exceção do Michael Douglas, que pegou a Catherine Zeta-Jones nesse meio tempo.

A trama gira principalmente em torno de Jake, que começa a crescer no negócio e tem que lidar com a questão da ética frente à ganância total e exterminadora. O roteiro se sai muito bem ao interligar as intricadas relações entre empresas e personagens, construindo uma linha narrativa forte no meio de tanta balbúrdia, e também ao apostar em diálogos coerentes com a ambientação da história. Ou seja, deve ser o primeiro filme hollywoodiano que tem mais números do que palavrões nas falas – e se por um lado isso as vezes deixa o espectador desorientado feito Luxemburgo no Atlético-MG, por outro confere realismo ao filme (imagino que conversar com um corretor de Wall Street ao vivo resulte na mesma sensação). Ainda há espaço para ideologias STONEANAS no meio das frases, como “Num dia bom, estou bem. Num dia mau, estou bem. Que diferença faz?” e “é o mesmo que vender crack para crianças”, o que deixa a coisa toda mais interessante. As únicas ressalvas são quanto a um otimismo infiltrado no final e ao romance entre Jake e Winnie, que nunca parece desenvolvido de forma correta, embora ela seja parte essencial da trama.

Oliver Stone aproveita toda essa coisa de “dinheiro é o canal, princípios é coisa de comunista” para jogar paisagens urbanas na tela como se não houvesse amanhã. Aliás, o cineasta fotografa os prédios de Manhattan quase com reverência, fazendo clara alusão àquela história de poder e símbolos fálicos e tal. A simbologia visual está bastante presente no filme, por sinal, seja de forma óbvia (as bolhas de sabão das crianças), desnecessária (as animações explicando blablablas científicos) ou totalmente genial (a câmera “caindo” do alto de um prédio antes da crise econômica; a recorrente utilização de espelhos e reflexos; o plano que mostra Gordon posicionado entre Winnie e Jake, pois o velhote é que havia se colocado no meio do relacionamento dos dois; a utilização da arquitetura dos prédios de Manhattan como gráficos de vendas; o óbvio mas ainda assim legal quadro de Saturno devorando seu próprio filho, que pode remeter à ligação entre Gordon e sua filha ou aos “tubarões” de Wall Street, que acabam devorados pelo mundo que os acolheu; e por aí vai). Além disso, Stone se diverte em alguns momentos com característicos planos-detalhe, cores destoantes, personagens desfocados e outros artifícios (mas coisas bem pontuais e sutis. Nada do FESTERÊ que é Assassinos por Natureza, por exemplo). O cineasta é bem acompanhado por uma fotografia que realça as cores sóbrias (afinal, são locais de trabalho onde pessoas insensíveis só querem ganhar dinheiro. Tipo a CBF) e uma direção de arte extremamente vitoriosa – reparem como alguns detalhes conseguem diferenciar o caráter das personagens, como a gravata-borboleta de Louis Zable (que o torna um velho simpático), o terno levemente roxo de Bretton James (que o deixa mais maléfico) ou as constantes situações onde Jake aparece vestindo roupas comuns e não terno e gravata (que o torna uma personagem mais “casual”, e, dessa forma, faz com que a galera se identifique facilmente com ele).

Por falar em Jake, Shia LaBeouf mais uma vez veste a camiseta número 10 e não sente o peso: totalmente à vontade como condutor da história, o pirralho consegue transmitir com trejeitos econômicos as sensações e pensamentos do protagonista, além de ter caido em um caldeirão de carisma quando nasceu. E ainda por cima é amparado por uma Carey Mulligan que retrata bem a vulnerabilidade de sua personagem, um Michael Douglas totalmente “eu como quem eu quiser, pego a grana que quiser e consigo o novo Twitter a hora que eu quiser” e um carismático Frank Langella. Só Josh Brolin eventualmente tropeça no caricaturismo, mas como ele enfrentou Javier Bardem em Onde os Fracos Não Têm Vez, damos um desconto.

Ao longo de toda a projeção as personagens de Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme buscam repetir o que outras personagens fizeram em Wall Street – Poder e Cobiça. Um ciclo que nunca acaba. E a narração em off ao final, explicando que insistir em uma mesma ação esperando resultados diferentes é insanidade, mostra o motivo da crise de 1929, da crise de 2008 e de todas as outras que virão: porque assim como a bolsa de valores, seres humanos não fazem sentido nenhum.

Deslumbramentose

Tenho a impressão que as pessoas andam deslumbradas demais por aí. Com tecnologia, com redes sociais, com possibilidades, com tudo. Acho até que toda aquela ausência de REALIDADE envolvendo Neymar, Dorival e Santos é resultado de um deslumbramento geral no meio futebolístico (mas claro, Dorival estava com a razão. Proponho criarmos uma camiseta com os dizeres “DORIVAL WAS RIGHT” e dar um jeito de fazer o Neymar andar na prancha. Mas divago). Uma pessoa pode até pensar “ei, mas isso é bom: as novidades são tão legais que nossas cabeças sequer conseguem administrá-las direito, e acabamos deslumbrados”.

Só que eu não acho que seja o caso. Imagino que o que move a galera é o principal motivador dos humanos, o de não ser passado pra trás. Tipo, não se pensa a respeito da coisa, só se faz a coisa, porque outros estão fazendo e não fazê-la seria ficar desatualizado com o novo, e ficar desatualizado com o novo é ser velho. E ser velho, aparentemente, é não estar mais apto a realizar nada.

A imagem que me vem à cabeça é de uma gigantesca bolha crescendo sem controle nenhum. E uma hora essa bolha vai acabar estourando. Daí quando ela estourar vão ficar apontando culpados, problemas, incompetências. E ninguém vai se lembrar de como estava maravilhado enquanto tudo corria bem. E, sentados em um canto, com um semblante pesaroso, os velhos vão sacudir a cabeça e dizer “nós bem que avisamos”.

Curtas

A Galera do Mal – 3/5

O que parecia ser apenas uma comédia adolescente bobinha acaba se revelando uma madura e inteligente discussão sobre fé, religião, fanatismo e preconceito, com boas pitadas de humor negro. É sério. Ok, muitos clichês de comédias adolescentes bobinhas estão ali, mas, considerando veículo, público e mensagem, acho que não podemos CRUCIFICAR o filme por causa disso.

Pi – 5/5

Utilizando bastante a força do preto e branco, de diferentes lentes e de um roteiro primoroso, Darren Aronofsky leva o espectador por uma tensa, angustiante e claustrofóbica viagem pela cabeça de Max Cohen, um obsessivo gênio da matemática. Uma experiência quase tão desgastante quanto ter que resolver problemas de geometria analítica.

Um Estranho no Ninho – 4/5

Jack Nicholson, tomado pela inspiração total, comanda um elenco carismático em um filme que consegue ser ao mesmo tempo divertido, questionador e intenso – duvido que alguém não fique com o coração pesando RONALDOS depois daquele final.

A Caixa – 2/5

A Caixa tem uma trama muito boa. E o filme realmente começa bem, conseguindo inclusive a proeza de me deixar com MEDINHO. Entretanto, a partir do segundo ato a película descamba para a derrota absoluta, perdendo-se completamente no ritmo, no tom e no desfecho. Uma obra que definitivamente não desce redonda.

Os Homens que Encaravam Cabras – 4/5

Uma sátira inteligente e divertida, com um elenco que provavelmente o Real Madrid tentará contratar na próxima temporada, momentos inspirados de humor e aquele que é talvez o melhor título de filme já lapidado (sim, a palavra é “lapidado”). Pra fechar, ainda possuem uma peça publicitária claramente assinada pelo próprio Deus:

Assim é demais pro meu coração.

Mary & Max – 5/5

Um dia, quando cientistas descobrirem a fórmula da vida, no meio de diversas substâncias que terminam com “ina” eles vão ver que há algo mais ali: uma animação cativante e sincera, contada através de uma beleza que deve fazer a Scarlett Johansson chorar no cantinho de inveja e que responde pela alcunha de Mary & Max. Se por acaso você assistiu e não passou semanas aos prantos, parabéns, a ciência finalmente conseguiu produzir robôs semelhantes a seres humanos.

O Segredo de Seus Olhos – 5/5

Impossível ficar indiferente a tamanha vitória no que diz respeito a roteiro, direção, elenco e todos os aspectos cinematográficos. Desde a história desenvolvida com cuidado ao plano-sequência que começa em um helicóptero e segue pelo interior de um estádio, em uma cena que por si só já valeria no mínimo uma religião em torno do filme, O Segredo dos Seus Olhos é uma película que SALTA À VISTA no meio de tantas obras policiais inócuas.

De velhas mansões inglesas e terras-médias

Cai o Pano – Agatha Christie

A trama de mistério definitiva. Agatha Christie tem um conhecimento brutal sobre a natureza humana mas, ao invés de utilizá-lo para criar verdadeiras monografias sobre o assunto, como fazem alguns COSSACOS, prefere montar intrigas épicas envolvendo assassinatos e segredos. Daí em Cai o Pano ela entrega uma história pensada e repensada até os ÁTOMOS, revelando seu assassino mais cruel, impiedoso e inteligente, tão sutil que torna-se impossível encontrá-lo – a menos, claro, que um certo Monsieur Poirto apareça em alisando seus bigodes e vestindo uma camiseta com os dizeres “Sherlock Holmes who?“.
Fiz uma pausa ligeira porque de repente vi as dificuldades.
Poirot disse:
– Está vendo? Não é tão simples assim. Só existem na realidade três métodos. O primeiro é avisar a vítima. Pôr a vítima de sobreaviso. Isso nem sempre dá certo (…). O segundo caminho é avisar o assassino. Dizer numa linguagem levemente velada: “Conheço suas intenções; se fulano morrer, meu amigo, você fatalmente morrerá na forca”. Esse dá mais certo que o primeiro, mas mesmo assim é comum falhar (…).
– Você disse que há um terceiro método – lembrei a Poirot.
– Ah, é verdade. Para esse é preciso muita sagacidade. Você tem de adivinhar exatamente onde e como o golpe fatal vai ser dado, e tem de estar pronto para aparecer no momento psicológico exato. Você tem de pegar o assassino, se não em flagrante, pelo menos com intenção culposa sem sombra de dúvida. E isto, meu amigo – continuou Poirot -, posso lhe assegurar, é dificílimo.
O Silmarillion – J.R.R. Tolkien
Tolkien era um sujeito de imaginação sagaz, e O Silmarillion prova isso: o autor de O Senhor dos Anéis (e responsável pela existência dos nerds) desdobra a sua Terra-Média e narra a história de como foi criado o seu mundo. Entretanto, são tantos nomes de pessoas e lugares que é impossível qualquer pessoa com menos de TRÊS cérebros se localizar. Além do mais, como é uma reunião de textos que foi publicada após a morte de Tolkien, a obra acaba se tornando irregular. Entretanto, quando não resolve encher meia página de nomes élficos e da expressão “ora,”, o cara consegue fazer coisas extremamente cativantes e interessantes (o conto de Beren e Luthien e as partes onde Melkor e Sauron são protagonistas, principalmente). Pode não ser algo que vai fazer mais pessoas saírem por aí fantasiadas de seres que não existem, mas na soma final O Silmarillion faz jus à mitologia dos nerds RPGistas.
Sauron descobriu que os homens eram os mais fáceis de influenciar dentre todos os povos da Terra; mas por muito tempo procurou convencer os elfos a lhe prestarem serviço, pois sabia que os Primogênitos tinham maior poder. E andava livremente entre eles, e sua aparência ainda era de alguém belo e sábio. Somente a Lindon não ia, pois Gil-Galad e Elrond duvidavam dele e de sua bela aparência; e, embora não soubessem quem ele era na realidade, não admitiam sua entrada naquele território.

Notas

Incrível como algumas músicas simplesmente “encaixam”. Não sei bem onde, nem como, nem por quê, mas encaixam. É como se essas canções preenchessem perfeitamente um vazio que simplesmente não existia até que elas fossem ouvidas pela primeira vez.

Daí fica aquela sensação engraçada de que uma música resume um mundo inteiro em alguns minutos – mas um mundo novo, desconhecido. Porque apesar de preencher um espaço, ela não completa nada. Ao contrário, deixa incompleto: cada vez que o cara ouve uma dessas canções, sai por aí querendo descobrir e criar alguma coisa, tocar guitarra, compor, escrever um livro, mudar o mundo, pegar a estrada, realizar algo incrível.
Ocupar um vazio e ao mesmo tempo abrir outros. No final das contas, essas grandes obras musicais são nada mais do que paradoxos. Assim como as pessoas. Talvez por isso seja tão fácil se apaixonar por canções como esta:

Anos 80 de volta à moda

A Ressaca (Hot Tube Time Machine)
3/5
Direção: Steve Pink
Roteiro: Josh Heald, Sean Anders e John Morris
Elenco
John Cusack (Adam)
Clark Duke (Jacob)
Craig Robinson (Nick Webber)
Rob Corddry (Lou Dorchen)
Os amigos Adam, Lou, Nick e o garoto Jacob viajam até uma daquelas tradicionais pousadas hollywoodianas (ou seja, com neve e pessoas DESCOBRINDO A SI MESMAS) para reatar sua amizade. Eis que, ao entrar em uma banheira, os quatro são levados de volta para os anos 80, o que é algo quase tão implausível quanto o gosto musical da galera na década citada. Daí os sujeitos vão querer reviver algumas coisas, mudar outras e aprender importantes valores de moral e amizade.
Depois de Stallone chamar uma turminha de brutamontes pra fazer o FRUTINHA Os Mercenários, A Ressaca vem para honrar de verdade os anos 80 e fazer os admiradores dos filmes da Sessão da Tarde PASSAREM LAQUÊ no cabelo de tanta alegria. Ou seja, é uma história totalmente desprovida de qualquer senso de realidade, cuja preocupação está mais em tirar sarro dos mauricinhos e exibir eventuais PEITINHOS do que fazer sentido. E mesmo não mostrando grandes ESTOPINS de imaginação, consegue divertir.
Embora algumas falhas quase joguem tudo por água abaixo.
O problema é que A Ressaca tenta fazer TODOS os seus quatro protagonistas toparem com algum tipo de EPIFANIA em uma lata de cerveja, o que, em tão pouco tempo de projeção, não consegue desenvolver as tramas dramaticamente (o que já é ruim) nem de forma RISONHA – e, o que é um problema ainda maior, havia espaço para fazer isso, mas ele é ocupado por piadas escatológicas tão descartáveis e sem graça quanto a seleção francesa de futebol. Como se não fosse suficiente, a história ainda joga uns dramas desnecessários no final, que soam forçados e inverossímeis. Entretanto, quando não se leva a sério (ou foge da filosofia “ei, isso é nojento, então deve ser engraçado!”), A Ressaca abre espaço para excelente sacadas, principalmente nos momentos em que faz PICUINHA de seu próprio gênero: a certa altura, por exemplo, ao receber de um VELHOTE informações enigmáticas sobre a viagem no tempo, Jacob fala “Você morreria se fosse um pouco mais direto comigo?”. Nesses momentos o filme se torna pura diversão, e dá vontade até de pegar um copo de Coca e um pacote de Trakinas para assistir ao longo da projeção.
Já a direção do filme é de DIREITA, ou seja, segue uma tendência convencional e sem inovações. Tudo fica naquela fotografia de cores vivas e saturadas, para que possamos apreciar todo o ESPLENDOR daqueles collants laranjas e rosas, sempre embaladas por um pertinente trilha que ora remete àqueles pops oitentistas e ora ao Heavy Metal farofa – o que acaba por reconstruir de forma eficiente todo o climão dos anos 80. A película ainda se beneficia bastante de seu elenco, que, liderado pelo carismático John Cusack, mergulha sem ressalvas no absurdo total e acaba conferindo uma boa dose de vida aos seus personagens estereotipados. Tipo, dá pra prever exatamente o que cada um deles faria se fossem convidados pra um churrasco. Mas ainda assim dá vontade de convidá-los.
Entre suas referências pops previsíveis e divertidas situações nonsense (“ele tem dois braços! Peguem ele!”), A Ressaca mais acerta do que erra. Afinal, na maior parte do tempo é uma diversão descompromissada e dinâmica, e que apela para aquele sentimento CÓDIGO DE HONRA de amizade que guia todos os homens. Infelizmente, quando a película erra, é o típico erro anos 80: exagerado, visualmente incômodo e extremamente batido.