Além da Imaginação

Nome por nome, o Quadrado Mágico brasileiro em 2006 fez muita gente “entendida” em futebol babar – pessoas que, obviamente, não colocaram a quadrilha em contexto: Ronaldinho (cujo futebol simplesmente desapareceu em algum triângulo das bermudas por aí), Ronaldo (que deixou seu futebol lá atrás, em meados dos anos 2000, junto com os joelhos), Adriano (que vivia – e ainda vive – de um gol contra a Argentina em uma Copa das Confederações) e Kaká (coitado, tinha que jogar pelos quatro). Somam-se a eles outros medalhões como Cafu (só posso definí-lo como “o Forrest Gump do futebol”) e Roberto Carlos (após a equação “Bicicleta na área de defesa + furada em bola = gol da Dinamáquina” em 98, devia ter sido proibido até de jogar videogame usando o Brasil como time). Eram escalados simplesmente porque eram famosos, junto com Zés Robertos e Gilbertos Silvas, que não eram famosos, nem bons, nem dignos de seleção, e a escalação destas duas nulidades é um mistério digno de qualquer thriller cinematográfico.

Só que a má vontade dos medalhões brasileiros quando no carpete não teve apenas consequências imediatas (abraço, Henry): a displicências das dançarinas em campo produziu um efeito furacão, onde o importante era mudar as coisas o mais rápido possível – e, nesse processo, simplesmente descartou-se todos os problemas relacionados à CBF, Nike, falta de treinos, convocações estranhas, seleção como vitrine para vendas, distribuição da cota dos amistosos, Ricardo Teixeira, e por aí vai. De alguma forma, ficou definido que o Brasil perdeu porque o Parreira não tinha vibração. E bola pra frente, com o perdão do trocadilho.

Pois o sagaz ditado Quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas acenou alegremente para o sketch canarinho. Dunga, sem experiência nenhuma, assumiu. E, seguindo a lógica de mudança, passou a convocar jogadores “aguerridos”, que não eram estrelas, não ganhavam salários milionários e não faziam comerciais de produtos questionáveis. Foi então que Mineiro, Josué, Afonso Alves, Elano, Luisão, Júlio Baptista, ganharam seu espaço. Uma horda de mediocridade tão grande que poderia ocupar um quadro inteiro no Zorra Total. Mas ei, eles não são estrelas, são trabalhadores, lutam o tempo todo pela seleção, certo?

Nem de longe. Os privilégios que determinados atletas tinham em 2006 se repete agora, só que com o parafuso girando pro outro lado, com trambolhos como os citados acima no lugar dos trambolhos famosos – pra vocês terem uma idéia, Elano já foi citado como titular inquestionável da seleção e Robinho como o símbolo da era Dunga e ninguém tira Gilberto Silva da volância. O capitão do Tetra montou uma turminha própria, e agora não quer se desfazer de ninguém (alguém aí lembra por quanto tempo as trancinhas de Vagner Love sassaricaram na seleção brasileira?).

O Brasil continua sem vibração. Continua sem tática, sem time, sem coletivo, sem soluções, sem inteligência, sem nada. Tem como símbolo um mau-caráter que pipoca de time em time buscando o título de melhor jogador do mundo (risos alucinados). Robinho é a pior coisa que aconteceu no esporte nacional em muito tempo, e toda vez que desfila sua incompetência no selecionado, vem acompanhado dos outros patetas. Eu disse TODA VEZ. Pior do que ver um meio-de-campo brasileiro começar com Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano e um Ronaldinho tosco, é olhar para o banco e ver que as “soluções” são jogadores exatamente iguais e que não podem mudar em nada uma partida.

Já presenciar o Brasil terminar o jogo escalado com Gilberto Silva, Felipe Melo, Josué e Júlio Baptista e comemorando um empate contra o Equador é digno de um episódio de Além da Imaginação.

O Grêmio agoniza

Quando desliguei o rádio, o comentarista resumiu numa frase o jogo de hoje, no qual o Grêmio venceu o São Luiz por 2×0: “o Grêmio joga comum demais”.

Quando o jogo insistia em ficar no 0x0, num primeiro tempo mais do que sonolento, ficava muito claro (ou transparente se pode dizer) que esse futebol feijão com arroz, no esquema 3-5-2, não engana e nem surpreende ninguém. Se duvidar, a minha mãe, que é colorada e não assiste futebol, conhece o esquema do Grêmio.

Reiniciado o jogo, o Grêmio acelerou a passada e num abafa conseguiu fazer um gol. O jogo seguiu igualzinho, o coitado do time de Ijuí mal conseguia passar do meio de campo, empenhado em manter o placar baixo, cada jogador posicionado no mesmo lugar (cada um no seu quadrado), como pinos, estacas, atrapalhando a passagem dos jogadores do meu time. Havia um atacante de corria de um lado pro outro, por muitos minutos, e nem tocava na bola, pois a sua volta o técnico gremista insistia em manter 3 zagueiros que ficavam ali num carteado de canastra, revezando a marcação do coitado do atacante de Ijuí que nem sabia o que fazer ali.

A torcida vendo aquela coisa imutável, insossa, e qualquer outro termo que lembre “falta de vontade de mudar, de reagir”, começou a xingar o técnico, pedindo, gritando, sussurando quase aos prantos, por alguém que fizesse alguma coisa mudar, alguma jogada aparecer, alguma tabela surpreender o time adversário.. tudo em vão.

O São Luiz, que veio de Ijuí num onibus modesto, sem torcedores, começou a ver que só fazendo o feijão com arroz, dava pra dar uns 2 ou 3 passinhos a frente. “A gente tá posicionado, como um time profissional do interior que sempre vem aqui fazer o ‘basicão’. O time grande da capital também está e não cria nada de assustador. Vamos indo mais pra perto do gol deles, todos juntos! Vai que alguma coisa a ente consegue!“. Deve assim ter pensado o capitão da equipe. O goleiro do Grêmio, que nem viu a cor da bola no primeiro tempo, teve que sujar a roupa em alguns momentos do segundo tempo.

“Burro! Burro!”. A torcida delirava atrás do alambrado. De ódio! “Tira um zagueiro! Poe o Douglas pra criar alguma coisa!”. Nada.

Celso Roth então parece ter percebido que alguma coisa não estava andando bem (uma leve impressão, talvez) e chamou 2 reservas. Opa!! É agora!.. Chamou uma dupla de ataque nova e tirou a dupla cansada. O chamado “seis por meia dúzia”.

Nada mudou. Mais uma vez o Grêmio deu uma acelerada, uma abafa, correria, puxão na orelha, chute na canela, xingou a mãe, joelhada no queixo, bola livre pro Reinaldo, quase pisou na bola, “Bola 5×0 Reinaldo”, GOL DO GRÊMIO!.. Nem levantei pra comemorar..

É muito triste perceber o time da gente definhando. Sem jogadas, os zagueiros correndo com a bola, coisa sem nexo, tantando driblar até chegar ao gol. Deprimente ver o pessoal tentando mostrar empenho, mas transparecer que o Grêmio não tem treinado para vencer, mas só para não perder. Deve treinar sim muito posicionamento, eu acho. O Grêmio segue na mesma balada de 2008. Todos o conhecem, mas o treinador acredita que esse “planejamento” tem futuro. No final do jogo, mesmo com a vitória, fiquei sentado um pouco, absolutamente desiludido. O resultado é importante, mas foi óbvio: o Grêmio não ganhou esse jogo, o São Luiz perdeu. Como competente time do interior, veio treinado para marcar bem e esperando uma chance milagrosa de contra-ataque. Assim como o Aurora, da Bolívia, ou o Boyacá, da Colombia. O Grêmio agoniza numa fórmula que não tem criatividade, ousadia e surpresas. Que não tem futuro.

Queria muito estar errado e ver um time confiante, criando jogadas de verdade, surpreendendo os adversários. Isso não existe hoje. O Celso Roth, com seus operários, acha que o time cria jogadas quando seus jogadores correm como loucos até a linha de fundo mais rápido do que os adversários. E quando não correrem mais do que eles? Aí dirá Celso que não conseguiram criar as jogadas!

O Grêmio só se impõe fisicamente, não cria nada diferente, fica tocando a bola até onde é possível e, quando deixa de ser, tromba. Perde a bola. Ou, quando é o Souza, fica dando voltinhas com a bola. O Souza é o nosso Robinho! Não é culpa dele, é culpa do treinador que não o treina junto com os companheiros para fazer uma jogada de verdade. Aquele tipo de lance no qual alguém esteja sempre livre para receber um passe direto, sem dois toques. Aquele lance que, por mais bem posicionado o adversário, a bola anda de pé em pé, certera (aquele Grêmio de 2001). O Grêmio não faz isso. O Grêmio abafa como pode. Corre quando tem pernas. Tenta. E agoniza.

Espero que mude. Logo. Esse foi meu desabafo.

Abraços.

Last exit

Tem um elemento dessa infestação de cinemas em shoppings (aliás, ainda existe algum deshopingzado?) que normalmente passa batido, mas incomoda bastante. Na real eu não tinha percebido também até assistir Gran Torino (baita filme, Clint Eastwood monstro demais) esses dias: a saída.

Aconteceu também quando fui conferir O Lutador. O negócio é que certos filmes simplesmente te atingem, provocando uma reflexão sobre o que o cara acabou de ver – no caso das duas películas citadas, uma certa melancolia tomou conta da minha pessoa enquanto as luzes se acendiam. Comecei a pensar sobre as histórias que havia acabado de assistir, sobre aquelas pessoas que não existem mas que, em determinados aspectos, parecem tão perto da gente. E isso implica uma certa atmosfera, um certo isolamento. Coisa que a sala de cinema faz com perfeição.

Então, ao sair do local, fui avassaladoramente atingido por um mundo de cores e luzes e pessoas e trivialidades e imediatismo e status e tantas outras coisas. Por mais que tente disfarçar, um shopping center é a lembrança daquela filosofia fast food, onde não há tempo para nada além de consumir. É um choque. Um choque tão grande que barra aquela reflexão, pois entre tantos elementos diferentes com os quais a pessoa precisa lidar, de imediato, sobra pouco espaço para pensar a respeito do filme. Então, por melhor que seja, ele também se torna algo momentâneo, que ocupa uma parcela de tempo e depois some. Algo descartável.

O que eu tenho feito mais é ficar durante boa parte dos créditos, para sair aos poucos daquela realidade que foi mostrada e me preparar para a outra realidade. Ainda assim, é impossível não ficar com um gostinho amargo na boca ao sair de uma obra tão intensa como O Lutador e, em seguida, me deparar com tantas coisas triviais gritando para chamar a minha atenção. Por mais superficial que seja o filme, ainda considero o cinema uma experiência. E não um passatempo.

gin and tonic

Quando do lançamento de seu primeiro disco, o Definitely Maybe, em 1994, o Oasis se viu frente a um processo movido pela Coca-Cola, que bradava furiosamente que a canção Shakermaker era plágio da música I’d Like to Teach The World to Sing, usada em comerciais da companhia refrigerantística/representação do diabo na Terra.

Declaração de Noel Gallagher sobre o processo:
– Agora só tomamos Pepsi.

Mais do mesmo

Aurora 1 x 2 Grêmio
Gols: Jonas(41′ 1T), Tcheco (41′ 2T), pelo Grêmio; Paredes (8′ 2T) pelo Aurora
Local: Estádio Félix Capriles, Cochabamba, Bolívia

Só o Grêmio mesmo. Diante de um time de botão, a equipe tricolor mostrou passes envolventes, triangulações, tabelas, inclusive jogadas que Kubric gostaria de filmar. Mas o funcionalismo público do ataque mostrou as caras de novo: completamente burocrático nas finalizações, o Grêmio carimbava sua incompetência de fazer gols.

Isso até o momento em que Alex Pãodequeijo assistiu Jonas que, alucinado, irrompeu na defesa para fazer as redes bolivianas dançarem. Mas mesmo com o placar já desvirginado, a equipe gaúcha continuou arremessando chances claras de gol no fundo do poço – numa delas, o goleiro Victor claramente proferiu impropérios contra as futuras gerações de Alex Mineiro, em uma cena que faria o Rocky Balboa tremer no calção dos Estados Unidos.

Bem, como Victor é o maior goleiro de todos os tempos, estava certo, e logo de uma jogada do Aurora NASCEU (desculpem, trocadilho inevitável) o gol de empate. Então Jonas foi expulso e o jogo foi pra hora do rush, truncado, parado, cheio de ofensas e implicações e sem direção nenhuma. Tudo apontava para menos dois pontos fáceis no saldo bancário do Grêmio quando Tcheco, o iluminado, alçou a pelota em direção ao gol sem perigo nenhum. Tudo indicava mais um lance insosso como um conto da Martha Medeiros. Mas eis que o goleiro auroreado, em um momento único de inspiração, abraçou com gosto um frango do tamanho da cabeça do Ruy. E o Grêmio foi salvo pelas mãos de quem tentava acabar com ele.

No Line on the Horizon – Faixa a faixa

Rumores falsos dizem que No Line on the Horizon é um disco sem igual.

Cada lançamento do U2 é um evento, destaque na mídia, causa frenesi, eclipsa o Ronaldo no Corinthians, entre outras façanhas memoráveis. Como bom fã, comprei logo o meu (belíssimo encarte, a propósito), e deixo aqui com vocês algumas simples mas sinceras impressões a respeito da bolachinha:

1 – No Line on the Horizon

Tal qual a equipe técnica de qualquer filme do 007, o U2 percorreu uma pá de países para gravar seu novo disco – e a crítica especializada coloca No Line on the Horizon, a música, como o resultado dessas andanças por diferentes lugares. Balela. Soa como o U2 dos anos oitenta reciclado, o que não é ruim, longe disso: a faixa-título tem força e um refrão cativante, e eventualmente, além da inevitável versão dance, pode virar um rockzão ao vivo. Um belo início de jogo dos irlandeses nada bêbados.

2 – Magnificent

Fato que vai abrir os shows, pois tem aquela introdução que vai crescendo e tal. The Edge mete ferro na boneca com riffs e melodias e delays certeiros, embora a coisa toda pareça a continuação de Miracle Drug, do disco anterior. Com um instrumental empolgado e Bono cantando sobre amor (Only love can leave such a mark/ But only love can heal such a scar), atinge o patamar de grandiosidade necessário para provavelmente virar o hino do álbum.

3 – Moment of Surrender

Oito desnecessários minutos de pretensão, batida ligeiramente hiohopeadaénoisbrow, rimas que falham miseravelmente em dizer qualquer coisa e… acho que dá pra parar por aqui, né?

4 – Unknow Caller

Vem com o típico dedilhadinho THEEDGEANO. A parte do verso é apenas bacana, se confundindo inclusive com outras canções do disco. Mas o refrão cresce alucinadamente, tendo como guia o já mencionado dedilhado e uma linha vocal de cantar com os braços erguidos. Um eventual solo chocho de teclado tenta jogar tudo por terra, mas não tem sucesso na empreitada.

5 – I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight

Melhor título. Tirando os falsetes do Bono, que combinariam mais com um ataque histérico de uma patricinha, a música flui como um carrinho num campo de futebol encharcado. Talvez seja a mais u2 de todas. Vai fazer muita gente se arrepiar em estádios ao redor do planeta.

6 – Get On Your Boots

A recauchutagem de Vertigo enfiou o pé na lama afu. A música é tão broxante que chega a dar pena daquele riffzão de guitarra perdido, ali no meio, como um bom atacante jogando em um time onde o meio-de-campo é constituído por cadeiras de praia. E ela ainda é.. argh… dançante!

7 – Stand Up Comedy

Dá vontade de tocar guitarra. Ecos de The Fly batem à porta enquanto Stand Up Comedy vai rolando. Apesar de ligeiramente funkeada, chamando o som dos Chilli Pepers na chincha, a canção é empolgante (mas não, não chama pra DANÇAR). O que já era bom melhora no refrão, onde, após um vocalzinho falseteado com The Edge, Bono larga alucinado um C’mon yer people / Stand Up for your love.

8 – FEZ – Being Born

Imaginem alguém comendo feijão com ketchup. Agora transfiram para o meio musical e pronto, temos FEZ – Being Born, uma canção que não faz sentido nenhum mas nem por isso deixa de ser bacana.

9 – White as Snow

Pode-se dizer que qualquer sujeito pegaria White as Snow em uma festa depois das duas da manhã: apesar de não ser memorável, nem ter grandes momentos, palavras ou o que quer que seja, é bonitinha.

10 – Breathe

Rápida, poderosa, instigante, diferente de tudo que a banda já fez, com um riff de guitarra que faz Keith Richards soar como um garoto em um xilofone, uma linha vocal que poderia partir um caminhão ao meio, um refrão memorável e com cada palavra em seu devido lugar. É absolutamente inevitável fazer o trocadilho: Breath é pura inspiração.

12 11 – Ceddars of Lebanon

Bem, ela acaba o disco. Quer dizer, não se pode pedir muito mais do que isso, pode? Enfim, é chatinha e sem sal e nada inspirada como toda música de final de festa.

As nossas histórias

Peixe Grande é um senhor filme. Um dos melhores do Tim Burton, na minha opinião, porque ele gira o parafuso pro lado contrário do seu visual “normal” – no caso, a criatividade alucinante do diretor é usada em prol de uma fantasia menos mórbida e mais viva do que de costume.

Mas há uma cena a destacar. E não preciso falar muito sobre ela, pois qualquer pessoa que já se apaixonou vai encontrar ali uma parte de si. É muito difícil traduzir algum sentimento pra palavras ou imagens, mas quando alguém consegue, o resultado, como mostra o vídeo abaixo, é um EQEL! de tirar o fôlego.

“Dizem que quando você conhece o amor da sua vida, o tempo para. E é verdade.”

Let it roll

Estou sentado na frente do pc, ouvindo música – mas, ao contrário do que o mundo inteiro pode imaginar, a música não vem de um arquivo virtual, e sim de um COMPACT DISC que está girando alucinadamente em uma SONZERA aqui do lado.

Imagino que qualquer pessoa que assistisse à cena ficaria comovida com a minha empolgação ao abrir caixinhas, botar o cd no som, trocar de disco, dar play, escolher a canção. É insanamente melhor do que simplesmente dar dois cliques em uma tela colorida. Talvez o fato de ser fácil demais conquistar uma música na internet diminua a força com que elas me conquistam. Não tem coisa melhor do que destrinchar um disco, ouvir ele sentado no cantinho do quarto, acompanhando as letras no encarte, com aquelas partes onde botaram fonte branca sobre fundo branco e não dá pra ler porra nenhuma (e acreditem, isso sempre acontece). Ouvir todas as dez canções que se tornaram sucesso e descobrir, escondida, aquela faixa pequeninha, quietinha, no canto dela, mas que se torna a mais cativante do álbum. Acho que se cria meio que uma relação de posse, de direito sobre aqueles três minutos de melodia, e, consequentemente, de paixão.

É isso. É muito mais fácil se apaixonar por uma música quando ouvimos ela no som, no toca discos, no show, na roda de violão e por aí vai. Claro que as facilidades dos mp3s são absurdas, pode-se ir de Oasis à opera clássica em segundos (mas a ópera clássica não fará show em Porto Alegre no dia 12 de maio). Literalmente. Só que, como tudo no plano virtual, as canções estão lá mas parecem não existir. Na minha cabeça, não são sons, e sim códigos sendo decifrados.

No disco, de certa forma elas tornam-se palpáveis, reais. E então eu posso ser escolhido por uma música, pegar ela com a mão, botar no bolso e carregar comigo pro resto da vida.

Curtas

O Lutador – 5/5
Mickey Rourke MARLONBRANDEIA afu na película, que só não venceu o Oscar para não ter seu nome associado com Shakespeare Apaixonado. É imperativo assistir no cinema, de preferência em uma sessão com pouca gente, e ficar durante os créditos enquanto rola a canção The Wrestler do Bruce Springsteen. Chorei feito um bebê.

Milk – A Voz da Igualdade – 4/5
Segue a cartilha das cinebiografias, sem muitas inovações e ousadias além de mostrar Sean Penn (afetadamente competente no papel) e James Franco se beijando. Mas, assim como em Gênio Indomável, mesmo através de uma narrativa convencional o diretor Gus Van Sant consegue fazer a diferença, em parte graças ao roteiro fluído, em parte graças ao elenco sem pernas-de-pau.

Walk Hard – The Dewey Cox Story – 3/5
Não acho que as cinebiografias de músicos tenham chegado a um ponto onde possam ser satirizadas (como as de super-heróis ou de filmes de terror, por exemplo), mas talvez tenha sido isso que impediu Walk Hard de ser apenas uma colagem de cenas famosas para se tornar um filme realmente engraçado em alguns momentos, apesar de passagens cansativas e pouco inspiradas.

Correndo com Tesouras – 3/5
Um daqueles filmes indie onde nada parece acontecer a não ser eventos estranhos sem conexão nenhuma com qualquer coisa que seja. Mas, sei lá, é bastante interessante durante boa parte do tempo e, pasmem, tem até algumas cenas divertidas (algo normalmente proibido pra filmes indicados ou premiados em festivais alternativos).

2 Dias em Paris – 4/5
Diálogos, diálogos, diálogos. Como toda produção francesa, o filme se regozija de diálogos, come eles no café da manhã. Só que aqui isso funciona, tanto para prender o espectador como para definir (e desvendar) as personagens e, claro, para fazer observações astutas sobre o mundo. Diversão inteligente e pertinente e até certo ponto descompromissada, se é que isso é possível.

Antes Que o Diabo Saiba que Você Está Morto – 5/5
A coisa é mais ou menos assim: se Phyllip Seymour Hoffman está no cartaz do filme, assista. Antes que o Diabo Saiba… é, mais do que outra performance lacrimejantemente boa do ator, uma complexa e intrincada teia de acontecimentos, desejos, enganos, insatisfações, traições, dores e todas aquelas coisas que definem nós, seres humanos(?).

O Homem-Elefante – 5/5
Não, não é nome de filme pornô, e sim a história de John Merrick, sujeito que nasceu deformado como um esquema de três zagueiros que utiliza dois volantes. Claro que, apesar disso, ele se mostra uma pessoa gentil e educada, e claro que isso cativa muita gente “normal”, e claro que a cena do teatro toma o espectador nos braços e espreme ele até não sobrar nem uma gotinha de água salgada ali dentro.

Die Welle – 4/5
A narrativa ágil e descolada [/MTV], quase urgente em determinados momentos, acaba se mostrando a escolha ideal para essa história de como os jovens são facilmente manipuláveis, principalmente quando a arrogância deles não permite que admitam isso. O final é melodramaticamente previsível, mas até lá o filme flui como cerveja em estádio de futebol.

Il Divo – 3/5
Um filme de máfia que começa bem, dinâmico, estiloso e tendo como protagonistas pessoas poderosas da Itália. Mas logo a película começa a empilhar personagem atrás de personagem, dando à história uma atmosfera de lista telefônica, e a coisa desanda.

Pecados Íntimos – 4/5
Uma interessante análise sobre a eterna insatisfação humana, como sempre queremos algo a mais, como nunca nos contentamos quando conseguimos, como as nossas relações são baseadas em estruturas frágeis e que, ao mesmo tempo, tornam tão difícil ir embora. Ah, e rola putaria.

O Escafrando e a Borboleta – 4/5
Daquelas obras que as pessoas assistem e dizem “Uau, isso mudou minha vida”, embora continuem levando suas existências exatamente da mesma forma. Visualmente interessante e sem tornar-se um chororô desenfreado (fosse novela da Globo, gastaria mais em lágrimas falsas do que todos os Sexta-Feira 13 juntos gastaramcom sangue artificial), o filme simplesmente conta muito bem uma história muito bonita. Cativante como uma balada de três notas no violão.

Our souls slide away

Podem fechar o mundo depois do dia 12 de maio: ao contrário de 2007 2006, quando fez uma curta passagem pelo Brasil, dessa vez o Oasis vem até Porto Alegre pra, junto com o Pearl Jam e o U2, fechar a trinca de maiores bandas do mundo no meu currículo, fechar a trinca das melhores bandas do mundo, a trinca das minhas bandas favoritas. O Oasis vem pra enfiar o volume nas nuvens e fazer o Gigantinho tremer como um cão molhado. Vem pra desfilar arrogância e ironia que subvertem o politicamente correto e reverenciam a palavra “diversão”.

O Oasis não vem pra fazer história, vem pra acabar com ela. Nada mais sobrará do mundo após o dia 12. Nada, a não ser os ecos de um show de rock que, no meio de tantas indieadas e hiphopeadas e samplers e loops e experimentalismo fajuto, vai ver quem realmente tem peito pra aguentar o tranco. Impossível conter a empolgação juvenil. Volto a acreditar que o planeta pode ser salvo com um simples riff de guitarra, um refrão emocionado. O Oasis vem aí, com roquenrol na ponta da língua com sotaque, e ninguém pode nos segurar.