Finais forçados e outras drogas

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs)
3/5
Direção: Edward Zwick
Roteiro: Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz, baseados no livro O Amor é O Melhor Remédio, de Jamie Reidy
Elenco
Jake Gyllenhaal (Jamie Randall)
Anne Hathaway (Maggie Murdock)
Oliver Platt (Bruce Winston)
Josh Gad (Josh Randall)
Estamos no ano de 1996. Jamie é um sujeito carismático e divertido que trabalha como representante de uma empresa farmacêutica. Maggie é uma moça carismática e divertida que, ao que parece, trabalha em um café ou algo semelhante. Eventualmente o caminho de ambos acaba se cruzando, e daí descobrimos que o irmão de Jamie foi chutado pela mulher, que Maggie tem Parkinson, que Jamie quer crescer na empresa, que os representantes farmacêuticos utilizam-se de diversas artimanhas, que o Viagra foi inventado, que a Anne Hathaway tem um corpo deslumbrante e que finais piegas continuam estragando bons filmes.
Quando fez o otimo Jerry Maguire (curiosamente em 1996), Cameron Crowe brincou com algumas convenções presentes em comédias românticas, incluindo aí o famoso discurso do “depois de duas horas de filme só descobri agora que realmente te amo” no final (se vocês já assistiram ao filme, sabem qual é a cena). Pois bem, se tivesse algum Cameron Crowe na produção, este O Amor e Outra Drogas poderia conquistar muito mais do que o título de comédia romântica legalzinha – afinal, a coisa segue por um belo caminho até o final, quando, no melhor estilo ROBERTO BAGGIO, o filme isola a pelota e perde a sua chance de ser relevante.
“Been there, done that” (Baggio, sobre Amor e Outras Drogas)
Não que tudo até lá seja uma conexão banda larga: tentando transitar entre ao menos quatro diferentes tramas (o romance dos pombinhos, o mal de parkinson, o crescimento na empresa e a família de Jamie), o roteiro tira a carta “Revés” na maior parte delas. Quando Jamie alcança alguma conquista profissional, por exemplo, a coisa parece tão fácil – já que o filme não gasta tempo suficiente na trama – que o espectador só consegue fazer aquele cara de mulher durante o sexo, tipo “mas já?”. Da mesma forma, as crises de Parkinson só realmente atingem Maggie quando a história precisa de algum conflito dramático, sumindo da película assim que a vaca já foi pro brejo no relacionamento dela com Jamie. E a presença de Josh Randall, irmão de Jamie, só consegue ser uma tradução visual para a famosa sigla internética “WTF?”, sendo responsável inclusive por uma das cenas mais bizarras de dispensáveis do ano (ok, o ano só começou agora, mas dizer “do ano” dá a força necessária pra frase).
Entretanto, e este é um grande “entretanto”, quando se concentra na relação entre Jamie e Maggie o filme abre seu caminho à força até o coração do público. Pra início de conversa, a forma como as duas personagens são apresentadas já as tornam interessantes: Jamie surge como vendedor em uma loja, carismático, dançando e conquistando clientes; e Maggie surge com um dos seios de fora. A partir daí, Amor e Outras Drogas desenvolve entre ambos uma relação adulta, construída a partir de cenas que ilustram bem a intimidade do casal, como a conversa no sofá, as conversas na cama, e, claro, o sexo intenso. Ajuda bastante tudo ser fotografado em cores quentes como se não houvesse amanhã, transmitindo ainda mais o calor e a paixão entre o casal – e vejam como até mesmo o desorganizado apartamento de Maggie surge aconchegante, agindo como uma espécie de “refúgio” onde eles podem fazer o que quiserem, falar o que quiserem e conseguem viver em seu próprio mundinho, sem preocupações externas. Caberia dizer aqui também que tais cenas possuem uma lacrimejante mise en scène, mas, com Maggie nua ou seminua em quadro, isso não é mais um mérito do que uma obrigação.
Claro que a coisa só dá certo porque Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway venderam a alma ao diabo em troca da química perfeita e total, e parecem estar realmente possuir aquele laço único que une homem e mulher (além da gravidez, digo). Além disso, Gyllenhaal mostra-se bastante à vontade tanto em cenas mais intimistas como quando Jamie precisa TAGARELAR com médicos e secretárias, exibindo um ótimo timing cômico e carisma de sobra. Já Anne Hathaway desfila uma beleza arrebatadora pra lá e pra cá, fazendo com que não apenas o protagonista se apaixone perdidamente por ela, mas também o público. Cada piadinha, cada trejeito, cada sorriso são como uma injeção de CRACK que deixa a galera extasiada só em ver a atriz. Fico questionando que tipo de iluminação BÍBLICA usaram pra rodar as cenas, pois a moça deve eclipsar até o Sol, que dirá alguns holofotes fanfarrões.
Assim, é uma pena que Amor e Outras Drogas acabe de uma forma tão piegas que até os fabricantes do bombom “Sonho de Valsa” recusariam o terceiro ato como comercial para o produto. Mais do que isso, a película se mostra extremamente apelativa ao usar o mal de Parkinson como desculpa para causar um conflito que resulta no final piegas já citado. O resultado com certeza seria bem melhor se as tramas tivessem menos importância, deixando que a relação entre Jamie e Maggie fosse o único fio condutor da narrativa e a luta dela contra o Parkinson tivesse alguma relevância dramática. Ou se o diretor botasse mais cenas de Anne Hathaway como veio ao mundo.

Crônicas da Discoteca – 2

A vida é repleta de momentos de definição. Tem o primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro carro, a primeira vez que o cara torce contra a seleção de futebol de seu próprio país. E, nessa dança do Tom Hanks no piano que eu chamo de vida, um dos momentos de definição possui um nome bastante conhecido e estiloso: Basket Case. Exatamente. Se, como eu já falei, a trilha sonora de Godzilla foi a criação e o rascunho da minha paixão por música, Basket Case foi a ARTE-FINAL que imprimiu de vez essa característica no meu coração. Ainda lembro de uma viagem do colégio para Santa Catarina na oitava série onde, enquanto todos faziam arruaças pelo ônibus, eu, com um DISCMAN à tiracolo, fazia o Dookie girar feito um carrossel anabolizado, ouvindo e reouvindo a canção número sete (vocês já repararam que a canção número sete normalmente é uma das melhores dos discos?). Claro que acabei descobrindo muito mais, como o refrão grudento de She, a letra esquisita de Having a Blast, a explosão de Burnout, o hino When I Come Around, o poder total em Emenius Sleepus e a incapacidade do Billy Joe de articular palavras.
Uma vez de volta a Porto Alegre me senti compelido em virar fã do Green Day. Mas curiosamente não fui atrás do Dookie, e sim do Nimrod, pois na época a baladaça Time Of Your Life tocava até em elevadores. E, como a  banda estava em chamas, canções tipo Uptight/Last Ride In, The Grouch, Redundant, Scattered e outras tomaram meu coração de assalto. Havia até mesmo a tradução musical da expressão “verdade absoluta” com Nice Guys Finish Last. E a endiabrada Worry Rock, com suas notas fáceis e vocal cativante que, até hoje, é uma das minhas favoritas. Daí eu, na época magrelo, meio nerd e tendo um aproveitamento ridículo com o sexo oposto, comecei a achar que era punk. Não que eu tenha feito um moicano ou coisa do gênero, mas sabe como é, eu me considerava esperto por gostar de música underground (provavelmente pra compensar a história do sexo oposto). E atirava aos tigres qualquer pessoa que ousasse chamar a banda de “pop”. Ora, o que é isso? Green Day é punk, cara. É anti-mainstream. É a revolução dos oprimidos! Eles xingam na televisão, pô!
Eis que inevitavelmente – e contra a minha vontade – cresci. E nesse processo o Green Day, como diversas coisas da adolescência, ficou pra trás – até porque a atitude antes considerada “rebelde” passou a soar apenas como idiota e parte de uma cuidadosa construção de imagem. Entretanto, quando fiquei velho o suficiente para entender o significado da palavra “saudosismo”, voltei às audições da banda californiana, se não com a mesma frequência, ao menos com o mesmo apreço por cada nota. Até mesmo os dois últimos discos, American Idiot e 21st Century Breakdown, se mostraram bem melhores do que eu imaginava, o que culminou com uma ida ao épico e devastador show do Green Day em Porto Alegre. Prova de que música boa consegue atingir a gente de duas formas diferentes em duas etapas diferentes da vida. E, seja na juventude ou na pós-juventude, é impossível ouvir tais canções sem fechar os olhos e cantar junto.
É claro que o já citado processo de ADULTIZAÇÃO que deixou a banda meio de lado na minha vida veio com novos sons, novas descobertas, novas sensações. Mas isso vocês descobrirão apenas no post Crônicas da Discoteca III ou Quem são esses caras de camisa de flanela e que não penteiam os cabelos?

Indicados ao Oscar 2011

Melhor Filme

Cisne Negro – O Vencedor – A Origem – O Discurso do Rei – A Rede Social – Minhas Mães e Meu Pai – Toy Story 3 – Bravura Indômita – Inverno da Alma – 127 Horas

Minhas Mães e Meu Pai foi indicado apenas pela famosa Síndrome de Pequena Miss Sunshine. E O Escritor Fantasma não ser indicado é uma clara punição por Polanski ter feito sexo com uma menor de idade na década de 70.
Melhor Diretor
Darren Aronofsky (Cisne Negro) – David Fincher (A Rede Social) – Tom Hooper (O Discurso do Rei) – David O. Russel (O Vencedor) – Bróders Coen (Bravura Indômita)
Estou organizando uma multidão furiosa com tochas para queimar o Kodak Theater pela ausência de Christopher Nolan na lista. Interessados devem levar seus próprios isqueiros.
Melhor Ator
Jeff Bridges (Bravura Indômita) – Jesse Eisenberg (A Rede Social) – Colin Firth (O Discurso do Rei) – James Franco (127 Horas) – Javier Bardem (Biutiful)
Colin Firth já estaria com a taça na mão se Jeff Bridges não usasse um tapa-olho em Bravura Indômita, o que o bota em condições iguais na corrida. Franco sairá derrotado porque apresentará o Oscar, e ficar ao lado da Anne Hathaway já é por si só um prêmio.
Melhor Atriz
Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade) – Jennifer Lawrence (Inverno da Alma) – Natalie Portman (Cisne Negro) – Michelle Williams (Blue Valentine) – Annette Benning (Minhas Mães e Meu Pai)
Natalie Portman vencerá, e seu sorriso no palco será tão doce que fará chover CHOCOLATE BRANCO.
Melhor Ator Coadjuvante
Christian Bale (O Vencedor) – Jeremy Renner (Atração Perigosa) – Geoffrey Rush (O Discurso do Rei) – John Hawkes (Invero da Alma) – Mark Rufallo (Minhas Mães e Meu Pai)
Torço demais para que Bale leve a estatueta e faça o discurso de agradecimento usando a voz do BATMAN.
Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (O Vencedor) – Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei) – Jacki Weaver (Animal Kingdom) – Melissa Leo (O Vencedor) – Hailee Stenfield (Bravura Indômita)
Não sei vocês, mas eu acharia bem engraçado se um filme com duas indicações na mesma categoria e chamado O Vencedor saísse derrotado.
Melhor Roteiro Original
Another Year – A Origem – O Vencedor – Minhas Mães e Meu Pai – O Discurso do Rei
A indicação do patético Minhas Mães e Meu Pai é mais um sintoma da Síndrome de Pequena Miss Sunshine. E deixar Cisne Negro de fora é uma reviravolta digna dos preguiçosos roteiristas de O Turista.
Melhor Roteiro Adaptado
A Rede Social – 127 Horas – Toy Story 3 – Bravura Indômita – Inverno da Alma
O roteiro de A Rede Social é tão brilhante que Sorkin levará duas estatuetas, a de 2011 e a de 2012.
Melhor Animação
Toy Story 3 – Como Treinar Seu Dragão – O Mágico
Até os “heróis da nave BBB”(sic) já sabem que o prêmio vai para Toy Story 3. E estará em excelentes mãos. Mas uma vitória de Como Treinar Seu Dragão colocaria a humanidade novamente no caminho correto.
Melhor Fotografia
Cisne Negro – Bravura Indômita – A Origem – A Rede Social – O Discurso do Rei
Os Coen sempre são devastadores na fotografia, A Origem mostra cenas onde as leis da física abotoaram o paletó e A Rede Social tem até uso do tilt-shift. Mas convenhamos, a melhor fotografia é SEMPRE a fotografia que capta a Natalie Portman.
Melhor Montagem
Cisne Negro – O Vencedor – O Discurso do Rei – 127 Horas – A Rede Social
Scott Pilgrim contra o Oscar.
Melhor Trilha Sonora
Como Treinar Seu Dragão – A Origem – O Discurso do Rei – A Rede Social – 127 Horas
A trilha de Como Treinar Seu Dragão é digna não apenas do Oscar, mas também da criação de uma RELIGIÃO em torno dela.
Melhor Canção
Coming Home (Country Strong) – I See the Light (Enrolados) – If I Rise (127 Horas) – We Belong Together (Toy Story 3)
Na ausência de Better Days (Comer, Rezar, Amar) e Stick & Stones (Como Treinar Seu Dragão), duas das melhores canções do ano, torço para que todas as indicadas percam.
Melhor Direção de Arte
Alice no País das MaravilhasHarry Potter 7.1 – A Origem – O Discurso do Rei – Bravura Indômita
Fico triste que a melhor direção de arte do ano, de O Escritor Fantasma, tenha passado por esta categoria como se fosse um… hm, um fantasma.
Melhores Efeitos Especiais
Alice no País das Maravilhas – Harry Potter 7.1 – A Origem – Além da VidaHomem de Ferro 2
A Origem faz uma PANQUECA com a cidade de Paris. Logo, o prêmio é deles – se bem que de uma categoria que indica Além da Vida ao invés de Tron sempre se pode esperar uma ROBINHADA.
Melhor Montagem de Som
A Origem – Toy Story 3 – Tron: O Legado – Bravura Indômita – Incontrolável
Normalmente vai pro mais barulhento (abraço, Incontrolável), mas a Academia provavelmente deve compensar a ausência de Nolan na direção com prêmios técnicos (a famigerada tática MISS SIMPATIA).
Melhor Mixagem de Som
A Origem – O Discurso do Rei – Salt – A Rede Social – Bravura Indômita
Idem ao item anterior, até porque são o mesmo prêmio.
Melhor Figurino
Alice no País das Maravilhas – I Am Love – O Discurso do Rei – A Tempestade – Bravura Indômita
Como não há nenhum filme de época que se passa no oriente, Alice vencerá porque é colorido e não convencional (dependendo do ponto de vista, claro: em termos de Tim Burton, é extremamente convencional).

Sr. e Sra. Tédio

O Turista (The Tourist)
1/5
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck, Christopher McQuarrie, Julian Fellowes
Elenco
Johnny Depp (Frank Tupelo)
Angelina Jolie (Elise Clifton-Ward)
Paul Betanny (inspetor John Acheson) 
Elise é uma moça de lábios grossos que está sendo perseguida pela Interpol porque eles querem capturar o namoradinho da moça, um sujeito que andou sonegando impostos a torto e a direito por aí. Então ela acaba cruzando com um turista em Veneza e, a partir daí, os dois passam a ser perseguidos pela Interpol, embora quem realmente devesse cuidar do caso fosse a P.I.F.I.A (Polícia contra a Idiotice, Falta de Imaginação e Amadorismo em filmes).
Em 2002 Sr. e Sra. Smith, um filme de espionagem estrelado por duas grandes celebridades da época – sendo que ambos eram o sonho de consumo de seu respectivo sexo oposto – causou FRENESI por colocar frente a frente Brad Pitt e Angelina Jolie. No entanto, apesar de ter ficado nas manchetes mais pela questão de “será que o Pitt tá pegando a Jolie” do que qualquer coisa, Sr. e Sra. Smith funciona bem como diversão descompromissada e arrecadou baldes de dinheiro por esse mundão afora. Daí vieram com esse O Turista, substituindo Pitt por Depp e tentando fazer algo também DESCOLADO e CHARMOSO, mas conseguindo apenas chafurdar na lama do fracasso e cozinhar bolos recheados de derrota.
Precisava de um barco bem maior que esse pra impedir o filme de afundar, filha.
A trama simples não seria um problema caso ela não tropeçasse em pedras e caísse de fuça no chão o tempo todo (precisávamos mesmo de MAIS UM vilão matando um capanga seu que comete um erro? Aliás, por que a Interpol vai atrás do cara que sonega impostos mas nem se preocupa com um gângster que mata gente adoidado? E precisava alguém dizer que a esposa de Frank morreu se isso não será abordado NENHUMA vez ao longo da trama? E que reviravolta estapafúrdia é aquela no final, que contradiz muitas das coisas vistas na película?). Como se não fosse o suficiente, o público ainda tem que lidar com aquele que é provavelmente o casal mais desinteressante da história do cinema. Tipo, em nenhum momento Frank e Alice fazem absolutamente NADA que justifique o interesse que um tem pelo outro, como se estivessem juntos apenas por uma questão de “oh, somos os protagonistas do filme, temos que ficar juntos”. O que é ainda pior, já que, quando juntos, eles apenas ficam tentando parecer misteriosos e profundos, dando com os burros na água todas as vezes – e diálogos constrangedores como “eu não me arrependo de ter beijado você” só pioram tudo.
Sabendo que tem em cena duas estrelas que homens e mulheres veneram, o diretor não economiza em closes, provavelmente na vã esperança de que olhar para o rosto dos atores por muito tempo fará o público esquecer a lambança que é o filme. Pensando bem,  O Turista é meio que como um museu de cera, onde a ideia é apenas deixar as pessoas olhando pra famosos que não fazem nada além de serem olhados. A preguiça é tanta que nem as poucas cenas de ação conseguem ser interessantes (percebam que a perseguição no telhado possui enquadramentos dignos do seriado do BATMAN nos anos 60). E olha que a história se passa em Veneza, uma cidade fotogênica por natureza e que oferece uma pá de possibilidades pra fazer sequências inesquecíveis, tanto de ação quanto de romance.
Mas o cacique da tribo de problemas presente em O Turista está justamente na sua dupla de protagonistas: a falta de química entre Depp e Jolie é tão devastadora que, imagino, os atores gravaram suas cenas individualmente sem jamais contracenar um com o outro, sendo unidos apenas na pós-produção. Além disso, Jolie mantém sempre a expressão de “eu sou gostosa”, tornando sua personagem ainda mais murrinha e totalmente apática ao que acontece (apenas ter lábios grossos não é o suficiente pra ser sensual, moça). Já Depp, infinitamente mais talentoso, mantém o tom de voz baixo e uma postura contida que combinam perfeitamente com a situação na qual Frank se encontra – mas, apesar de ser o responsável pelos raríssimos momentos de humor (aliás, “raríssimos” não define a situação tão bem quanto “correndo risco de extinção”), o ator pouco pode fazer com uma personagem que não faz nada em uma história que simplesmente não acontece.
Ao que tudo indica a ideia da película era basicamente ser uma edição de Caras com movimento, mostrando duas pessoas famosas em uma cidade européia bonita, e tentar se passar por filme inteligente com aquela reviravolta no final. Acontece que a virada realmente pega o espectador de surpresa, mas apenas porque ele já havia imaginado aquela hipótese e a descartado por ser um mar de implausibilidade com ondas de contradição. E fecha a história de forma tão patética e novelesca que, no lugar de Jolie e Depp, talvez o filme devesse ter colocado nomes como Toni Ramos e Glória Pires.

Os globos da morte

Quando eu era pequeno e ia ao circo – e na época o circo era formado por artistas, e não por jornalistas -, uma das atrações que mais me impressionavam era o Globo da Morte. Basicamente, era um enorme globo gradeado e recheado com um grande número de pessoas pilotando MOTOCAS ali dentro (ou seja, gente andando em círculos, o que me leva a concluir que o único nome mais pertinente do que “Globo da Morte” é “vida”). E, como vocês podem imaginar, o grau de perigo da atração era algo próximo a invadir o Iraque com um ESTILINGUE ou usar transporte coletivo, pois os caras andavam pra cima e pra baixo do globo em velocidades absurdas, faziam looping, ficavam de lado, tudo isso perfeitamente sincronizado pra que as motos não se batessem. Eu saía de lá impressionado, porque mesmo com todas as seguranças e medidas de precaução os sujeitos estavam arriscando a vida ali. Presenciar um ato de tamanha coragem e bravura é estonteante, e eu tinha bastante certeza que, no caso deles, Deus não colocara nenhuma colher de “medo” na formação desse grande buffet que é o caráter.
Hoje em dia fico imaginando essas pessoas caminhando na rua, indo pagar contas, esperando o sinal fechar pra atravessar a rua, fazendo as coisas normais que todos nós fazemos. E estou certo de que, ao ver o que os motoqueiros fazem no trânsito atualmente, esses paladinos da coragem, que arriscavam a vida diariamente, sacodem negativamente a cabeça e pensam “esses caras são loucos”.

Globo de Ouro 2011

Melhor Filme de Drama – A Rede Social

Como a maioria das empresas está apostando em estratégias de comunicação nas redes sociais, a HFPA (Hollywood Foreing Press Association) resolveu não ficar pra trás.

Melhor Diretor – David Fincher
Foi uma escolha do tipo “ok, desculpe pelos 4 ou 5 prêmios que deveríamos ter entregado a você e não entregamos”.

Melhor Ator de Drama – Colin Firth (O Discurso do Rei)
Ainda não assisti ao filme, mas, pelo sobrenome do cara, seria bem irônico se ele ficasse em segundo.
Melhor Atriz de Drama – Natalie Portman (Cisne Negro)
Porque ela é a Natalie Portman. Ponto final.
Melhor Ator Coadjuvante – Christian Bale (O Vencedor)
O cara é o Batman e o Psicopata Americano. Eu também teria medo dele e entregaria na hora não só o prêmio, mas também a carteira e o carro.
Melhotr Atriz Coadjuvante – Melissa Leo (O Vencedor)
Não vi o filme, mas, ainda nos trocadilhos com nomes, a HFPA claramente não quis deixar o talento da Melissa AO LÉU.
Melhor Comédia ou Musical – Minhas Mães e Meu Pai
O filme é medíocre, e a única justificativa para o nome da categoria é o fato de todos os indicados serem RISÍVEIS.
Melhor Ator de Comédia ou Musical – Paul Giamatti (A Minha Versão do Amor)
Ainda não assisti ao filme, mas foi merecido porque Giamatti é como o Romário: baixinho e talentoso.
Melhor Atriz de Comédia ou Musical – Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai)
Comédia mesmo é os caras não premiarem a Julianne Moore, que dividiu as telas com a Annette Bening e a fez COMER POEIRA.
Melhor Filme Estrangeiro – In a Better World (Dinamarca)
Não sei sobre o que VERSA a película, mas “In a Better World” é de fato o pensamento que os brasileiros têm na cabeça antes de se mudarem pra países como a Dinamarca.
Melhor Canção – You Haven’t Seen Me (Burlesque)
Better Days, música do Eddie Vedder pro chatíssimo Comer, Rezar, Amar, é tão superior que a própria canção vencedora do prêmio ficou com vergonha de sua inferioridade e se auto-denominou “vocês nem me viram”.
Melhor Trilha Sonora – Trent Reznor e Atticus Ross (A Rede Social)
Não premiar a trilha de Como Treinar Seu Dragão aqui é crime federal e os responsáveis pelo Globo de Ouro serão devidamente julgados e enforcados.
Melhor Filme de Animação – Toy Story 3
Toy Story 3 é descomunal e mais uma prova de que a Pixar vive dopada (única explicação possível). Mas, em 2010, Toy Story 3 tem que pedir a benção pra Como Treinar Seu Dragão.
Melhor Roteiro Original – Aaron Sorkin, por A Rede Social
Ok, o roteiro do Sorkin na real é adaptado. Mas como ele imprime cada diálogo da IMPRESSORA DA BELEZA DEFINITIVA E INSUPERÁVEL, é merecido.
Melhor Série de Drama para Televisão – Boardwalk Empire
Martin Scorsese + Steve Buscemi = vitória.
Melhor Atriz de Drama para Televisão – Katey Sagal (Sons of Anarchy)
A moça merecia algum alento depois de aguentar Al Bundy em Married With Children.
Melhor Ator de Drama para Televisão – Steve Buscemi (Boardwalk Empire)
Desde Cães de Aluguel o Mr. Pink sempre sai com o prêmio.
Melhor Série de Comédia ou Musical para Televisão – Glee
Community sequer foi indicada. Prevejo fracasso total da humanidade até 2012.
Melhor Atriz de Comédia ou Musical para Televisão – Laura Linney (The Big C.)
Laura Linney é gata e conseguiu atuar de igual para igual com Philip Seymour Hoffman em A Família Savage. Respeito.
Melhor Ator de Comédia ou Musical para Televisão – Jim Parsons (The Big Bang Theory)
A atual temporada de The Big Bang Theory está uma desgraça, e boa parte da culpa cabe ao Sheldon. E os caras ainda me premiam o sujeito. Fundo do poço.
Melhor Minissérie de Televisão – Carlos
É sobre Carlos, o Chacal. E um cara com apelido de “o Chacal” merece cada prêmio que recebe.
Melhor Ator em Minissérie de Televisão – Al Pacino (You Don’t Know Jack)
HUA!
Melhor Atriz em Minissérie de Televisão – Claire Danes (Temple Grandin)
Deixem esse prêmio de lado e jamais esqueçam de Claire Danes no filme Romeu + Julieta:

Melhor Atriz Coadjuvante em Televisão – Jane Lynch (Glee)

Como o nome “Lynch” ali indica, esse prêmio não faz sentido nenhum.
Melhor Ator Coadjuvante em Televisão – Chris Colfer (Glee)
Ficam dando prêmios pra Glee, daí daqui a 10 anos a gurizada tenta resolver seus problemas DANÇANDO e CANTANDO e ninguém sabe o motivo.