Nike – Make the Difference

Dando uma banda pelo YouTube achei dois vídeos sensacionais da Nike pra campanha Make The Difference, de 2009. Os dois têm como protagonistas jogadores do Arsenal (Arshavin e Fabregas), e mostram que, se por um lado as camisetas da Adidas são mais ARREBATADORAS, por outro a Nike entendeu o que é futebol – pelo menos nos comerciais.

Você poderia apenas ficar no chão. A grama é macia e gostosa. Em um minuto, alguns sujeitos legais vão carregar você pra fora do campo. A torcida vai aplaudir. E a imprensa vai dizer que você caiu como um herói.

Pra mim, soa como um insulto.

Um milissegundo e contando. Tempo de sobra para definir o jogo. Relaxe. Dê uma olhada em volta. Aproveite a vista. Então escolha seu homem. E sirva a bola em uma bandeja.

Bon Appétit.

É uma bomba

Encontro Explosivo (Knight and Day)
1/5
Direção: James Mangold
Roteiro: Patrick O’Neil
Elenco
Tom Cruise (Roy Miller)
Cameron Diaz (June Havens)
Pessoas que levam tiros
Uma vez que deu certo pra James Cameron no filme True Lies, em 1994, Hollywood resolveu apostar mais uma vez na combinação “agente secreto MCGUYVERIANO e companheira histérica”. Daí botaram o Tom Cruise e a Cameron Diaz sendo perseguidos pelo mundo porque têm em seu poder uma BATERIA VITAMINADA e… e bem, é isso.
Esse filão de comédias de ação/aventura costuma ser bastante lucrativo, e, normalmente, dá bons resultados (o já citado True Lies, Máquina Mortífera, Tiros & Beijos, etc). Entretanto, só pegar a fórmula e atirá-la em frente às câmeras, como um ex-BBB tentando carreira artística, não vai fazer com que o espectador solte sequer um ESCÁRNIO.
“Cameron, transformar este filme em algo decente vai ser uma missão… impossível.”
E é isso que Encontro Explosivo faz sem pudor nenhum. Tive acesso ao roteiro original da película e ele dizia exatamente o seguinte: “vamos botar, tipo, Tom Cruise e Cameron Diaz dando a volta ao mundo e sendo perseguidos, e tipo, a gente pode explodir algumas coisas aqui e ali, soltar uns tiros aqui e acolá, daí tipo, bora inventar uma bateria infinita pra ser o motivo da matança e tal, \o/”. Os diálogos são dolorosos, não apenas pela construção e obviedade, mas também por acreditar que o espectador não vai lembrar de algo que ocorreu míseros cinco minutos antes. E a trama se resume a ver os protagonistas levando chumbo e sorrindo como em um comercial de perfume.
Sabendo que possui um casal fotogênico, o diretor James Mangold não tem constrangimento nenhum em enfiar a câmera na cara deles, em closes abundantes. Infelizmente os efeitos visuais não são tão fotogênicos assim, e, graças à utilização chinfrim do chroma key, um espectador desavisado pode achar que está assistindo a um TELEJORNAL. E as cenas de ação seguem pelo mesmo caminho insosso, tão entediantes que, cada vez que June gritava ou saía correndo, eu achava que tinha menos a ver com a coreografia murrinha dos tiroteios e mais com alguma eventual barata que aparecera por ali. Aliás, gritar e correr é só o que a Cameron Diaz faz o tempo todo, além de permitir que seus lindos olhos azuis sejam fotografados em close. Já Tom Cruise liga o modo RED BULL e sai alucinado pelas ruas, derrubando pessoas com seu sorriso perturbador, dando mais tiros do que solteirona em festa cheia de jovens e usando óculos escuros.
Pra não dizer que nada se salva, a luta inicial no avião é até legalzinha, e uma cena onde determinada personagem é drogada diverte bastante, também. Mas no geral é uma fórmula batida, contada de forma batida, com ideias batidas e cenas batidas. Uma sucessão de derrotas, e mesmo os lindos olhos azuis da Cameron Diaz não conseguem fazer desse encontro nada mais do que uma faísca.

Por que revistas impressas são melhores do que o iPad

Irá o iPad terminar com as festas juninas?
Conversando com um amigo meu durante a LABUTA, abordamos alguns temas filosóficos envolvendo tranqueiras digitais e impressas, e a conclusão foi de que os aparatos digitais de forma alguma sobrepujam os não digitais. Por que? Ora, eis os porques:
– O cara não pode enrolar um iPad e bater com ele no cachorro quando o bicho roer o fio do notebook ou a figurinha do Fábregas. Quer dizer, até pode tentar usar só pra bater, mas talvez seja mais barato baixar um aplicativo que simule o som de um jornal acertando um canino;
– Não dá pra recortar o iPad e usar como bandeirinha de São João. E não, usar o Ctrl + X pra tentar recortar não adianta também;
– Caso resolva sequestrar alguém, nem pense em usar o iPad pra mandar aqueles bilhetes com frases formadas por palavras de diferentes revistas;
– iPads não são dobráveis em formatos diversos como aviõezinhos, naviozinhos, chapeuzinhos e mais um monte de “inhos” que os japoneses inventaram;
– Um sujeito de caráter duvidoso não pode amassar um iPad, atirar em alguém e acusar como autor da travessura um inocente que esteja por perto;
– Nenhum transeunte pode abrir o iPad e colocar em cima da cabeça para se proteger de uma chuva incessante. Quer dizer, poder até pode, mas daí é um investimento indo por água abaixo;
– Devido à sua constituição frágil, iPads não podem ser utilizados para calçar mesas e cadeiras mancas.

Ideia pra um curta

Um pai está sentado no sofá, um óculos de aro fino no rosto, lendo tranquilamente o jornal, quando sua filha de 4 anos entra na sala e pergunta se pode fazer uma pergunta. O pai ri da inocência dela e diz que sim, claro que pode. Então a guriazinha pergunta a ele por que se deve usar camisinha. O pai se engasga e diz como assim?, e a mocinha loira de olhos azuis angelicais repete a frase. Daí o pai deixa o jornal de lado, esfrega os olhos e pensa. Gagueja, tenta desviar. E a guriazinha sempre olhando. Ele fala da florzinha e da abelinha, mas não consegue colocar a camisinha no meio da história. Então resolve chutar o balde e dizer a verdade. Mas no meio da explicação, a mãe entra em casa. Vendo a cena, ela fica completamente alterada, pergunta como ele pode fazer aquilo, diz que é um homem doente, atira uma almofada no sujeito. Grita que ele sempre foi um depravado, que ela devia ter percebido antes, que ele a enganou deliberadamente e ela não merecia isso. Então, lágrimas nos olhos, pega a filha e avisa que vai passar uns tempos na casa da mãe, porque se recusa a dividir o quarto com um homem nojento daqueles. Ao pai, tudo que sobra é levantar, pegar um copo de uísque, respirar fundo e murmurar baixinho “é por isso que eu devia ter usado camisinha”.

Das comédias que ainda são engraçadas

Tá Rindo do Quê? (Funny People)
4/5
Direção: Judd Apatow
Roteiro: Judd Apatow
Elenco
Adam Sandler (George Simmons)
Seth Rogen (Ira Wright)
Leslie Mann (Laura)
Jason Scwhartzman (Mark Taylor Jackson)
George Simmons é um comediante famoso e solitário que é diagnosticado com uma doença rara e possivelmente terminal. Daí ele contrata um sujeito gordinho e simpático pra ser seu assistente, e os dois começam a se tornar bróders e enfrentar todas as BALBÚRDIAS que aparecem pela frente.
Judd Apatow é o diretor por trás de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos, duas comédias que viraram FRISSON quando foram lançadas e que trouxeram frescor e qualidade ao gênero. E nesses trabalhos o cineasta já mostrava uma preocupação com as personagens dos filmes, que fugiam dos estereótipos, que tinham atitudes simples como todos nós. E este Tá Rindo do Quê?, além de uma das piores traduções de títulos de todos os tempos, mostra essa característica de Apatow no nível 99.
Equipe responsável pela tradução do título do filme.
A trama segue aquela premissa básica de POWERPOINT INSPIRADOR, tipo “sujeito milionário e egoísta repensa seus valores e descobre a beleza das pequenas coisas”, mas é tão bem construída que convence. O arco dramático percorrido por George Simmons não é previsível, e a personagem não acaba o filme “completa” – pelo contrário, como mostra uma cena onde ele está dirigindo ao lado de Ira. Isso faz com que o espectador realmente seja cativado por aquele sujeito, e realmente queira pagar uma cerveja pra ele enquanto discutem a rodada de domingo do Brasileirão. Somam-se a isso diálogos críveis e sacadas inteligentes, fazendo de Tá Rindo do Quê?, além de uma tradução de título mais chula do que a Lindsay Lohan, uma comédia realmente engraçada.
Para ilustrar a solidão e tristeza de Simmons, Apatow utiliza bastante planos bem abertos, onde o protagonista é a única pessoa presente (e SAQUEM como a mansão do comediante fica mais clara e alegre quando Ira está por perto). Mantém o filme em um caminho seguro, sem arriscar muito – a não ser uma ou outra câmera tremida aqui e ali quando alguém está num momento de instabilidade -, e demonstra de diversas formas o crescimento gradual de Simmons (até o figurino dele fica mais colorido e menos desleixado com o tempo). Claro que ajuda muito contar com um Adam Sandler contido, econômico nos trejeitos, que, com seus ombros caídos e sua expressão de torcedor do Botafogo, transmite bem toda a DERROTA pela qual está passando. E também com Seth Rogen, cuja cara de VIRA-LATAS FAMINTO é o suficiente para que o público simpatize com ele, ainda mais que Ira é um sujeito boa-praça e busca sempre a atitude correta. Isso faz de Tá Rindo do Quê?, além de uma tradução de título provavelmente feita por HITLER, uma obra que se sustenta na relação entre duas personagens absolutamente SUPIMPAS.
Além de tudo isso, Apatow joga de maneira orgânica na história diversas críticas à atual indústria do entretenimento, à forma como se faz comédia atualmente, ao culto às celebridades, à superficialidade desse comportamento, e muito mais. Isso faz de Tá Rindo do Quê?, além de uma tradução de título que justificaria uma guerra mundial, prova de que há vida inteligente no reino das comédias hollywoodianas.

Status

Imagine o seguinte: você paga ofensivos quinze reais para assistir a um filme em uma grande rede de cinema. Daí aquele seu amigo malandrão chega na sua casa com um dvd do mesmo filme, em uma embalagem tão oficial quanto o título mundial do Corinthians. E ele se gaba de tal façanha, tal qual um garoto que conseguiu amarrar os sapatos sozinho pela primeira vez. Para ele, pagar cinco reais por algo que os outros pagam quinze para ver é o supra-sumo da esperteza.

Agora imagine esse seu amigo, esse recanto de sabedoria das ruas, comprando um tênis da Nike. Ele não vai chegar na sua casa com um tênis da “NÁIQ” se gabando de sua esperteza, vai? Ele não vai fazer TROÇA porque conseguiu uma versão pirata e mais barata, vai? Ele não vai Twittar algo como “malandragem não se consegue, se tem” por causa disso, vai?
É claro que não. Porque um produto da Nike tem um status, um valor simbólico que vai além do plano físico. Já possuir um dvd original, por exemplo, não tem status nenhum pra boa parte das pessoas, e por isso eles podem valer-se de canais ilegais para buscar tais produtos – embora diversas campanhas publicitárias alertem de novo e de novo para os malefícios causados pela pirataria.
Qual a lição que fica? Simples: status é o que realmente importa. As pessoas não são CONSCIENTIZÁVEIS, mas são manipuláveis. Para uma causa dar certo, basta atribuir a ela um valor simbólico, um status inexistente, que voluntários vão se multiplicar feito juros de banco. Aí já sabem, né: o canal é colocar o Cristiano Ronaldo batendo uma bola com filhotes de focas, contratar a Lady Gaga para gravar o hit Hungry Face e gravar um vídeo da Sara Carbonaro e do Casillas se pegando dentro do mar onde uma grande empresa derramou óleo. É batata.

Socialites também amam

Um Sonho Possível (The Blind Side)
3/5
Direção: John Lee Hancock
Roteiro: John Lee Hancock, baseado no livro de Michael Lewis
Elenco:
Sandra Bullock (Leigh Anne Tuohy)
Quinton Aaron (Big Mike)
Jae Head (S.J. Tuohy)
Uma socialite intensa, intimidadora e gostosa liga o modo BONO VOX e resolve ajudar um necessitado – no caso, Big Mike, um garoto que estuda no mesmo colégio de seus filhos. Daí ela oferece pro guri um lar, abrigo, comida, estudo, carinho, amor e uma mensagem edificante tipicamente hollywoodiana. Baseado em uma história real.
Um Sonho Possível é daqueles filmes que já vêm encaixotados, com um aviso na frente dizendo “levar as pessoas às lágrimas”. Qualquer um que já tenha visto algum filme envolvendo superação, sabe o que vem a seguir: o rapaz aprende valores familiares, a família também aprende com ele, todos ficam felizes, há um conflito, algumas pessoas se arrependem, e tudo volta ao normal. O tipo de filme seguro, que joga atrás e tenta marcar gols de bola parada (no caso, algumas cenas-chave).
Eu queria dormir no sofá dela.
O roteiro já começa com uma narração em off, o 4-4-2 do cinema, que não volta a se repetir até o final, quando a mensagem edificante precisa ser PRENSADA na cabeça do espectador e ele precisa sair do filme como uma pessoa melhor. Há uma certa falta de fluidez em algumas cenas, onde parece que determinadas ações soam artificiais e forçadas (como o momento onde Collins senta ao lado de Big Mike na biblioteca), e a película também falha miseravelmente ao colocar SJ como um daqueles meninos espertos e maduros que hollywood inexplicavalmente adora, na tentativa de colocar humor na trama (mas na verdade colocando apenas CHATICE TOTAL). Entretanto, no geral a história segue de forma agradável, sem grandes percalços – pelo menos até o momento do supracitado “conflito”, onde o roteiro investe em uma briguinha TRESLOUCADA, que não faz sentido nenhum e tudo que acrescenta ao filme são minutos.
Tal qual um estudante de Direito, o diretor mantém as coisas no nível convencional, arriscando pouco. Mantém as cores bastante nítidas, como se fosse uma eterna sexta-feira de feriado com o sol brilhando, o que mantém o visual agradável aos olhos(exceto, claro, em uma ou outra cena de maior sofrimento, quando sintomas de MONOCROMATISMO atingem a película). Os enquadramentos mantém a câmera sempre na posição clássica, sem procurar ângulos diferentes, porque procurar ângulos diferentes é coisa de indie. Sorte que mantém em cena uma Sandra Bullock em chamas, magnética, que convence o espectador da honestidade de Leigh Anne. Já como Big Mike, Quinton Aaron faz pouco além de olhar pra baixo com cara de triste. E o resto do elenco são tipo os problemas sociais do Brasil: sabemos que estão lá mas realmente não nos importamos.
No final, até que Um Sonho Possível cativa aqui e ali, em boa parte graças ao carisma de sua protagonista. Mas faltou sair da zona de conforto e se arriscar a fazer uma obra verdadeiramente relevante. Só escrever “baseado em uma extraordiária história real” não faz com que o filme deixe de ser artificial.