Retrospectiva 2011 ou The Verve estava certo

Ouvir Bittersweet Symphony, do The Verve, é algo que inevitavelmente faz o cara sentar, refletir e pensar sobre a vida (e depois sair na rua empurrando pessoas). Porque, por mais clichê que possa parecer, os caras estão certos: essa vida é uma grande sinfonia agridoce. Tive alguns anos bem meia-boca ultimamente, inclusive o pior de todos, mas esse 2011 veio repleto de coisas impossíveis, me deu um tapa na cara e disse “GET YOURSELF TOGETHER, MAN!” (na real eu não tava despedaçado, mas assim fica mais dramático).
Então resolvi juntar aqui algumas coisas, alguns momentos, e contar como foi o ano pra mim. Um ano onde coisas que eu mal esperava que fossem acontecer em um espaço de cinco anos se juntaram. Uma blitzkrieg de conquistas. Obrigado, 2011. E diga a 2012 pra manter o nível, ok?

Estúdio Marquise 51, Porto Alegre, 26/04
Estádio do Morumbi, São Paulo, 09/04 – U2
Trocadero, Paris – 05/05
Palácio de Westminster, Londres – 09/05
Portão de Brandemburgo, Berlim – 14/05
Amsterdam Arena, Amsterdam – 17/05
Dublin Castle, Dublin – 23/05
Bruxelas – 26/05
Bruges – 27/05
Estádio do Morumbi, São Paulo – 04/11 – Pearl Jam
Estádio do Zequinha, Porto Alegre – 11/11 – Pearl Jam
(não apareço na foto, mas juro que estava lá)
Estúdio Marquise 51, Porto Alegre, 18/11

Trivialidades dolorosas

Estou com uma afta na boca. Bem ali no canto superior esquerdo (no meu canto superior esquerdo), no outro lado do lugar da bochecha mais utilizado (onde as pessoas dão os beijos de cumprimento, onde eu bato sem querer quando estou caminhando no escuro). Surgiu do nada a desgraçada, tal qual aquele motorista que, atrasado pra algo menos importante do que ele realmente acha que é, desdenha do sinal vermelho e arremessa o carro na faixa de segurança.
Quase simpatizo com ela, entretanto. Se for parar pra pensar, a afta é como uma versão do tecido conjuntivo para a história da Davi e Golias: pequena, humilde e subestimada, ela com frequência derruba adversários muito maiores (já comeu alguma coisa salgada com uma afta na boca?) – e, pior, o faz sem nenhum esforço, apenas sendo ela mesma. Tipo, mesmo parada, a dita-cuja consegue alterar a realidade ao seu redor. É telecinésia pura.
Mas todas essas virtudes são aniquiladas pela personalidade insidiosa da afta. Quando o cara menos espera, quando tá tudo bonito e perfeito, quando ele tá correndo em câmera lenta pra abraçar a Rachel McAdams na praia, essa despeitada vem na ponta dos pés, tira uma lança afiadíssima Deus sabe de onde e a crava sem piedade no seu hospedeiro. Não há como se preparar, não há como evitar. Assim como a vida, a afta vem do nada e te joga na sarjeta.
E não, esse texto não é uma metáfora sobre relacionamentos.

Um blog com a idade do Calvin

Há exatos seis anos, eu postava aqui a parte 1 de um relato sobre o show do Pearl Jam em Porto Alegre em 2005 (claro que teve a parte 2 depois). E é emblemático que algo tão especial tenha sido o pontapé inicial deste blog, pois, ao longo dos últimos seis anos, o Cataclisma virou uma mistura de autobiografia, produção de conteúdo, diário, veículo para desabafar sobre futebol, entre muitas outras coisas. Aqui deixei pra posteridade não só o show do Pearl Jam, mas também o do U2 (dividido nas partes um, dois, três, catorze, cinco, seis), do Oasis,  Green Day, Paul McCartney, Pearl Jam de novo, etc. Além disso, foi aqui que eu e meus amigos – pois nem sempre este foi um blog solitário – demos vida a diversos projetos, como a cobertura da Libertadores 2007, as colunas (Tá Tudo Interligado, Expressão Digital, Suando a 14, A 14 km/seg, Peliculosidade), o Cataclisma no Pan, os trocadilhos com as notícias, a cobertura da Copa do Mundo de 2006 e por aí vai. Sem contar, claro, que este espaço foi palco de diversas críticas de cinema (a de Lua Nova teve cinco mil acessos em um dia), devaneios, opiniões, raciocínios, foi onde as pessoas puderam ver minha irritação com o Winning Eleven e minha tristeza após a morte do meu pai.
Como podem ver, tem muito mais aqui do que parece ter. E eu fico bem feliz que ele seja essa mistura nonsense de um monte de coisas, sem buscar um foco específico, sem tentar ser referência em alguma coisa. Apenas um espaço onde as pessoas despejam ideias. Eu gostava tanto do conteúdo postado aqui que algumas vezes até alimentei esperanças de ganhar dinheiro com isso. Principalmente porque houve uma época onde os posts eram quase diários, sempre interessantes e sempre com uma perspectiva única. Mas, como vocês devem ter percebido, atualmente a coisa toda está às moscas. Devido ao trabalho, textos para o b33p, banda e outros projetos legais, as atualizações estão tão escassas quanto a safra de boas notícias para os torcedores do Atlético-MG. O que me levou à lógica conclusão de encerrar as atividades por aqui. Evitaria bastante frustrações da minha parte. E que oportunidade melhor pra fazer isso do que no aniversário do blog?
Mas daí eu pensei melhor sobre a terceira frase do parágrafo acima, sobre o fato de que nunca vou ganhar dinheiro com isto, nunca vou virar uma celebridade e, certamente, nunca uma loira deslumbrante de pernas roliças vai me abordar na rua e dizer “tu escreve no Cataclisma 14, não escreve?”. Acho que muita coisa que está à solta na internet se preocupa demais em como se promover e menos no que está promovendo. Com o resultado, e não o trabalho. Assim, vou manter o blog como um Clube da Luta virtual, um lugar onde eu posso publicar o que quiser a hora que quiser e sobre o que eu quiser. Sem grandes amarras ou responsabilidades. Talvez demore um mês pra ter uma atualização. Talvez um dia. De qualquer jeito, sempre vou anunciar os posts via Twitter ou Facebook pra quem se interessar pela produção textual/trocadilhos daqui. Garanto que sempre vai ser algo interessante.
Tenho consciência de que esse papo de “acho que vou fechar o blog” é mais do que batido. Provavelmente não mudaria a vida de ninguém se eu o fizesse, ou mudaria muito pouco. Mas a questão é que o Cataclisma 14 existe há seis anos. É o projeto mais longo que eu já fiz, e o que mais deu certo. Possuo um carinho e orgulho descomunal por todos os posts que estão aqui embaixo, todos eles, sem exceção. Ao falar que pensei em terminar tudo, não estou tentando comover um dos três leitores já citados; estou tentando mostrar o quanto esse monte de páginas e links e caracteres que eu chamo de “blog” é importante para mim. Porque uma coisa sempre diz duas, e se eu falo que pensei em fechar este lugar, foi só pra ilustrar o valor dele e o quanto me faz feliz o esforço de continuar mantendo ele vivo.
Feliz aniversário de seis anos, Cataclisma 14.