Linearidade FAIL

O novo disco do Pearl Jam, Backspacer, foi lançado nos êua dia 20 de setembro. Antes disso, obviamente, a mãe internet já havia extraído o conteúdo do dito-cujo e feito as músicas pularem pela rede sem medo de serem felizes. Acontece que o CD – um CÍRCULO REDONDO E NO FORMATO ESFÉRICO com um FURO ESBURACADO E ESPAÇADO no meio e que armazena dados através de MAGIA NEGRA (pros mais novos entenderem) – só chegará às lojas portoalegrenses dia 7 de outubro, junto com a roda, ao que tudo indica. Entretanto, após a menstruação da obra na internet, já ouvi cada canção pelo menos um RENATOPORTALUPPIZILHÃO de vezes.

Uma vez que um faixa-a-faixa só pode ser feito após colocar o método científico em prática (deitar no sofá, botar o disco no cd player* e acompanhar as letras no encarte – e os encartes do Pearl Jam costumam esfregar a fuça dos outros no chão), estou temporariamente inapto a realizar a tarefa citada acima. Apesar de já estar familiarizado com o álbum. Apesar de conhecer cada nota dele.
Ou seja, esqueçam toda aquela baboseira de buracos de minhoca e buracos negros: vivemos em uma era onde as pessoas vêem as coisas antes delas acontecerem, mas não podem falar a respeito porque elas ainda não se tornaram realidade. A internet já é uma máquina do tempo.
*Veio antes do Ipods e mp3 players, geralmente tem um tamanho robusto e toca no máximo entre 11 e 18 músicas por vez.

Curtas

Mera Coincidência – 5/5

Dustin Hoffman completamente em chamas, e com Robert DeNiro como bróder. Não bastasse isso, o roteiro pega o espectador, amarra ele na cama e põe palitos de fósforo em seus olhos, pra que ele não desgrude um momento do que está acontecendo. Como se ele fosse um garoto que recém descobriu a senha dos canais pornôs.

Os Normais 2 – 2/5
Fui enganado pelo inspiradaço trailer. Embora a química entre os protagonistas RECHEIE a tela o tempo todo, as situações vão ficando cada vez mais forçadas e sem graça. Entretanto, levando-se em consideração o subtítulo (“A Noite Mais Maluca de Todas”), talvez assistir ao filme numa quarta de tarde, triturando um pacote de Trakinas de morango e um copão de Coca, torne tudo melhor.
Brüno – 1/5
Pega as piores partes de Borat e as eleva até uma potência onde fica difícil separar, entre os realizadores do filme, aqueles que são profissionais e aqueles que tomaram injeções cavalares de adolescência e humor físico apelativo. Aliás, chamar aquilo de “filme” é exagero – o termo correto pra definir a obra seria um daqueles avisos de banheiro cuja inscrição diz “Favor dar a descarga”.
Persépolis – 4/5
É impressionante a fluidez de Persépolis, ainda mais considerando-se o RONALDO de informações com as quais o filme lida, e nunca de forma superficial. Caso você veja um daqueles seus amigos que dizem “animação é pra crianças” andando de bicicleta por aí, pegue Persépolis e coloque no meio dos aros da roda. É batata.
Manhattan – 5/5
Um belo dia, Woody Allen caminhava pela rua, até que encontrou um diamante. Então ele pegou esse carvão velho e esculpiu ele no formato de um roteiro. Chamou Diane Keaton e Meryl Streep pra brincar, e o resultado foi Manhattan.
Dias Incríveis – 4/5
Vince Vaughn e Will Ferrel, completamente alucinados, como se estivessem dirigindo um caminhão de cerveja atrás de uma van com as coelhinhas da Playboy, conduzem a película na última marcha e ouvindo Born to be Wild no último volume. Esqueçam Stallone, Van Damme e aqueles filmes de ação com musculosos descamisados e suados: Dias Incríveis é o filme-macho-alfa definitivo.

Life as we know it

Existem coisas contra as quais não se pode lutar: furacões; terremotos; o imposto de renda; buracos na estrada; Jackie Chan; o fato de que o ônibus vai passar pouco antes de tu chegar na parada; a Globo.

Este é o ano do centenário do Inter. Em ano de centenário, os times nunca vão bem. Eles jogam pontos fáceis na sarjeta, escorregam, agem como alunos de auto-escola tentando fazer baliza, enfim, no ano do centenário os clubes basicamente tiram a cartinha “Revés” do Banco Imobiliário” o tempo todo.
Então não adianta lutar contra isso, colorados. Nenhuma pessoa do mundo consegue reverter essa situação. Quanto antes aceitarem, melhor. A vida se tornará mais tranquila, menos frustrante. E nem adianta apelar para a fé: como o jogo de quarta-feira mostrou, os católicos não pretendem facilitar nem um pouco as coisas.

Sobre escritores e não-músicos

Frenesi Polissilábico – Nick Hornby

É um AJUNTAMENTO das colunas sobre leitura que Nick Hornby escreveu pra revista Believer. Quando colocadas em sequência, dá pra notar que o texto tem altos e baixos (principalmente em piadas que surgem claramente forçadas), mas no geral a linguagem simpática e engraçada do inglês, somada à sua absoluta ausência de preconceito no que se refere a literatura, torna o livro divertido e uma excelente referência de futuras leituras.

O Clube do Filme – David Gilmour

Um veículo pro autor demonstrar seu conhecimento (enciclopédico, e não subjetivo, na maior parte – tipo o cara que lembra do gol do PIRULITO que deu um título fanfarrão para o ARRANCA TOCO F.C. no ano de 1961, mas não sabe analisar futebol) de cinema. Falta densidade ao texto do David Gilmour (não, não aquele), e os acontecimentos parecem simplesmente jogados na narrativa como jogadores na seleção brasileira. Em nenhum momento o amontoado de páginas passa a sensação de que algum daqueles filmes foi importante pra alguma coisa na vida de alguém. É fácil de ler, mas não acrescenta quase nada.

O top dos corações quebrados

É um fato inegável que o amor move o mundo – do entretenimento. Comédias românticas, dramas românticos, livros românticos, músicas românticas, tudo isso atrai as pessoas. Elas enxergam nesses elementos o sonho da felicidade. E, claro, só depois descobrem que na vida real as pessoas não vão aplaudir um casal se beijando no aeroporto, mas sim ofendê-lo pesadamente por estar atrasando todo mundo (com exceção dos gritos de “pega na bunda dela!”, proferidos por jovens recém saídos do colégio e que estão embarcando para uma aventura em Londres. Mas divago).

Dentro desse tema, nada causa mais empatia e sucesso do que o sofrimento. O sofrimento alheio, digo. Pode-se afirmar, inclusive, que a indústria dos corações quebrados fez com que algumas poucas pessoas pudessem literalmente comprar a felicidade. E foi desse tema romântico/avassalador que saiu o novo Top 5 do blog, pois eu também quero tentar ganhar grana com a miséria. Apresento, então, o Top 5 Músicas Dor de Cotovelo.

5 – Hole in My Soul – Aerosmith
Ao longo dos anos 90 o Aerosmith encheu a cara de baladas, sempre exibindo melodias cativantes e letras sofridas como um usuário de internet discada. Mas Hole In My Soul é a definitiva. A canção é tão cheia de amargura que ela poderia facilmente derrotar um exército de spams com correntes otimistas. Do instrumental desoladoramente bonito até a voz esganiçada do Steven Tyler (passando pelo videoclipe obrigatório), tudo nessa balada indica um sujeito deitado na cama, sem fazer a barba e assistindo Faustão de novo e de novo.
Trecho Avassalador: Yeah there’s a hole in my soul / but one thing I’ve learned / for every love letter written / there’s another one burned

4 – Piano Bar – Engenheiros do Hawaii
O próprio título dá indícios da melancolia alucinada que virá a seguir. Porque Piano Bar começa lenta, com as notas de um piano ecoando ares de um lugar cheio de fumaça e vazio de esperanças. Conforme a música cresce, e uma guitarra distorcida surge chutando a bunda dos outros instrumentos, e Humberto Gessinger começa a gritar até expulsar suas AMÍGDALAS da garganta, o sentimento predominante passa a ser o de vingança e rancor. Igual uma pessoa tentando cancelar seu cartão de crédito por telefone.
Trecho Avassalador: Ontem à noite / a noite tava fria / tudo queimava / mas nada aquecia / ela apareceu / parecia tão sozinha / parecia que era minha aquela solidão

3 – Bad – U2
Poucas bandas sabem construir climas como o U2. E desde o início de Bad já podemos perceber que ali o buraco é mais embaixo. Bem mais embaixo. No fundo do poço, pra ser mais preciso. A música consegue ser melancólica e intensa, acertando o ouvinte com marretadas certeiras de angústia – como no refrão, absolutamente desolador, onde Bono consegue até RASPAR SUJEIRA DE PANELAS com sua voz rasgada e áspera.
Trecho Avassalador: If I could / throw this lifeless lifeline to the wind / leave this heart of clay / see you walk / walk away

2 – Black – Pearl Jam
Black é desesperadora. Black são quase seis minutos de uma fratura exposta mergulhada em ácido sulfúrico. Black é o mundo visto por uma criança que nunca brincou de Comandos em Ação. Não há um segundo sequer, na canção inteira, que não seja doloroso. Na verdade, “Black, do Pearl Jam” é o nome de um dos círculos do inferno de Dante. O pior deles. E uma vez dentro da música, não há mais como sair.
Trecho Avassalador: And now my bitter hands / cradle broken glass / of what was everything / all the pictures had / all been washed in black / tattooed everything/ all the love gone bad / turned my world to black / tattooed all I see / all that I am / all that I’ll be

1 – Always – Bon Jovi
Essa canção deve ser o maior ímã de mulheres da história. Sério. Uma canção bonita falando sobre o amor incondicional de um cara por uma mulher? Na mosca. Mas chegou aí por seus méritos: Always é um conto sobre o sujeito que não conseguiu escapar. Que vive eternamente apaixonado por algo que jamais poderá ter. O desespero aqui não é só da perda, mas também de um futuro repleto de frustração, ciúme e dor. E o Bon Jovi, apesar de seu cabelo Quanto Mais Idiota Melhor, captou bem a situação – o vocal chorado dele cai como um FLUMINENSE nessa dose maciça de tristeza que é a música. Always coloca pra debaixo das cobertas qualquer ser, em qualquer lugar do mundo, e faz isso com uma nota Sí amarrada nas costas. Então, é apenas justo que assuma a primeira posição.
Trecho Avassalador: When he holds you close, when he pulls you near / when he says the words you’ve been needing to hear / I wish I was him, ‘cause those words are mine / to say to you, ‘til the end of times that I / will love you / baby / always

Falando de morcegos

O filme Batman: O Cavaleiro das Trevas é tão bom que, sempre que eu assisto, preciso de toda minha força de vontade pra não amarrar uma toalha nas costas e sair por aí desossando bandidos alucinadamente.

Aliás, a conciliação entre uma bilheteria absurda e críticas absurdamente favoráveis, somada ao fato de que a película versa sobre uma personagem mundialmente conhecida há anos, deu a O Cavaleiro das Trevas um ingresso VIP pra cultura pop. E, como qualquer convidado dessa turma, o filme acaba inspirando centenas de obras em dezenas de mídias diferentes, nos mais variados aspectos.

E é graças a isso que podemos presenciar genialidades como o vídeo abaixo:

the last carnival

Moon rise, moon rise, the light that was in your eyes is gone away.
Daybreak, daybreak, the thing in you that made me ache has gone to stay

We’ll be riding the train without you tonight
The train that keeps on moving
It’s black smoke scorching the evening sky.
A million stars shining above us like every soul living and dead
Has been gathered together by God to sing a hymn
Over the old bones.

Nós, as crianças

Não ter ido à Disney é um dos maiores traumas da minha vida, junto com o cachorro que tentou arrancar minha perna e o galho de árvore que quase arrancou meu olho enquanto eu fugia do cachorro que tentava arrancar minha perna. Enfim. Mais do que os brinquedos e a diversão, a Disney sempre pareceu um lugar onde a lógica das crianças predominava – eu imaginava que, se visse algum adulto carrancudo, teria o direito de chegar e dizer “Com licença, mas o senhor ultrapassou o nível de ADULTICE permitido. Desta vez darei apenas uma advertência, mas da próxima serei obrigado a levá-lo até a montanha-russa”, ou algo do gênero. E então eu sairia fazendo cara de mau e MASCANDO TABACO, sempre em direção a algum brinquedo alucinante.

Porém, inevitavelmente, cresci. Vieram mais responsabilidades, mais situações, mais decisões, e muito menos dinheiro. Parece que a vida ta sempre tentando puxar as pessoas das coisas que elas querem fazer. Mas, apesar de (quase) adulto, a casa do seu Walt ainda está na minha cabeça: quero fazer o Mickey vestir a camiseta do Grêmio; quero colocar a moedinha da sorte em uma máquina de refrigerantes; quero perguntar pra Maga Patalógica se ela conhece o Harry Potter. Mais do que tudo, quero andar em alguma montanha-russa que suba além da ALTAPRACARALHOSFERA, perceber que eu cometi um dos maiores erros da minha vida ao chegar lá no topo e tentar controlar o nervosismo do corpo cantando “Eye of the Tiger” com toda a força.

Porque, de certa forma, ainda há fantasia na Disney (aliás, a Pixar prova isso ano após ano). E eu também quero viajar pra Europa e tal, mas acho engraçado como de repente essas bandas “aventureiras” pelo velho continente e pela Oceania (ou 24 territórios à sua escolha) se tornaram o cálice sagrado das viagens. Digo, é raro ver alguém entupindo seu álbum do Orkut com fotos do Pateta e do Donald. Será por que é “coisa de criança”, e cafés pequenos em Paris são “chiques”?

Às vezes eu acho que a gente ADULTA de forma muito rápida.

Mais do mesmo

– Sabe o que eu mais gosto na internet?
– Pornografia.

– Não, cara. Quer dizer… sim, é, mas sabe o que eu mais gosto além disso?
– O fato da pornografia ser de graça.
– Não, porra! … tá, ok, mas fora a pornografia, sabe o que eu mais gosto?
– O que?
– A internet é a democratização da informação. Um lugar onde todo mundo tem vez. Não tem mais o domínio de uma ou duas grandes empresas de mídia.
– É verdade.
– Agora temos os blogs, twitter, orkut, e todo mundo tem seu espaço para dizer o que quiser, pra quem quiser. E qualquer pessoa pode acessar.
– Por falar nisso, hoje eu entrei no globo ponto com e vi que Fran do BBB vai fazer fotos com visual tipo anos 50.
– Sério? Putz, eu passei o dia todo no Terra e não vi isso… Acho ela gatinha.
– Vai sim. É que a notícia entrou faz pouco tempo, eu tava cuidando o site pra assistir os novos vídeos de No Limite, e vi a matéria. Bem legal.
– Droga.
– Parece que eu to melhor informado que tu, meu amigo. Mas a internet é assim, né: quem sabe usar, sai na frente.
– Ah, bem lembrado, eu tava navegando ontem e descobri um vídeo muito legal na web, tu provavelmente não conhece, mas acho que vai curtir. Acessa o Kibe Loco aí…