Samson

Ando bastante viciado nessa canção “Samson”, da Regina Spektor. Não entendo muito de música, mas percebo ali uma harmonia incrível entre as notas do piano e a voz – não só a questão de estarem afinadas uma com a outra, mas algo um pouco além, como se tivessem sido concebidas ao mesmo tempo, algumas notas criadas pela voz e alguns vocais pelas teclas, como se fossem exatamente a mesma coisa expressa de formas diferentes.
Mas tem um momento ali, onde ela canta “stars came falling on our heads”, que a voz da moça subitamente começa a ficar mais baixa, quase sussurrada, de uma cumplicidade comovente, e é nesse momento que eu sinto toda a doçura e intimidade envolvidos e consigo imaginar as luzes amarelas bruxuleando ao redor de lençóis improvisados, onde duas pessoas se submetem uma à outra em uma escolha que era impossível não fazer, enquanto lá fora as estrelas caem e os vulcões explodem e espadas e machados dançam por entre corpos de heróis e martires que jamais serão reconhecidos. Mas ali dentro tudo que importa é o que está ali e o que vai acontecer ali, como se o universo tivesse congelado naquele momento e tudo que existisse coubesse nessa canção onde uma voz doce e sensível canta sobre uma pausa momentânea do mundo e todos percebessem que talvez isso seja o máximo que se consegue e aceitassem que tudo bem, a vida não nos deve nada e qualquer momento de felicidade é tão importante quanto qualquer outro momento de felicidade..