Tríceps corda enquanto exercício de criatividade

Recentemente voltei a frequentar a academia, após quase dois anos dizendo que eu gosto dos exercícios físicos só como amigos. É uma reconciliação difícil – menos pelos horários e pelo investimento monetário e mais pela dor lancinante que hiperboliza o peso da idade ao longo da primeira semana pós-retorno. Mas a quantidade de benefícios proporcionados pela atividade física é de aproximadamente UMA CARALHADA, e não vou citar eles aqui porque todo mundo deve receber sua dose diária de informação acadêmica via postagens do Instagram, então o melhor a fazer é ficar quieto e se juntar ao movimento de NO PAIN NO BODY HEALTHY ENOUGH TO DRINK TONS OF BEER ON THE WEEKENDS.

Entretanto, uma vantagem insuspeitada trazida pela recorrente movimentação de placas pesadas através de um sistema de cabos é a inspiração. Muita gente não gosta de academia por ser uma atividade intrinsicamente repetitiva repetitiva repetitiva repetitiva, uma coleção de movimentos curtos e concentrados e controlados e executados em séries até a exaustão. Mas descobri que fazer esse esforço e fazer de novo e de novo pode ser libertador: a abordagem automática dos movimentos, que não exige nenhum esforço racional além do cuidado para evitar que coisas pesadas caiam em cima do pé, permite que a mente faça check-in e embarque nas viagens mais aleatórias, faça novas associações, assimile as possibilidades do ambiente, risque seja lá qual for o fósforo cerebral que produz aquela faísca de insight, porque a alternativa – ficar contando modorrentas oito ou dez ou doze ou quinze vezes enquanto os braços sobem e descem com cada vez mais dificuldade – é de uma chatice quase terminal.

Além disso, exercício libera uma substância qualquer que exercícios liberam (não a gordura, porque essa eu ainda tenho de sobra) e que é criatividade-friendly, fazendo com que as séries de rosca concentrada unilateral não apenas construam bíceps mais proeminentes, mas também ideias mais proeminentes (é sabido por todos que Charles Dickens não abria mão de uma pernada pelas margens do Tâmisa, embora historiadores ainda não tenham chegado a um consenso sobre se o famoso autor de Oliver Twist treinava rosca concentrada unilateral ou não (de fato, Dickens parece mais o tipo de sujeito que escolheria uma aula de Circuito Funcional)).

Há inovação na repetição. E vocês não sabem como essa afirmação torna menos obliterante pagar a mensalidade da academia.